No penúltimo dia da Hannover Messe em 2023, na delegação brasileira que participa da maior feira de tecnologia aplicada à indústria do planeta, as expectativas provavelmente serão superadas. E, quanto mais próxima a hora de arrumar as malas, aumenta a sensação de que a missão está apenas no começo. Isso acontece porque os empresários tupiniquins que estiveram na cidade alemã, desde o domingo passado, terão de ajustar um espaço extra na bagagem destinada às novas ideias e conceitos adquiridos durante o evento que se encerra nesta sexta-feira (21).
O gerente de operações do Senai-RS, Victor Gomes, afirma que existem feiras em todos os lugares que apresentam tecnologia já existentes, mas Hannover, diz, sempre foi uma referência técnica para a atualização no setor industrial. Segundo ele, o que está na maioria dos estandes é algo já disponibilizado ao mercado, só que nem sempre acessível a todos.
— Tecnologia é uma ferramenta regida pela demanda, entretanto, também molda o futuro. Se trabalharmos apenas a demanda corremos o risco de não termos o futuro que a gente quer — resume.
Durante um tour pelos pavilhões com foco em bioeconomia, automação e hidrogênio verde, ele identifica inúmeros produtos de empresas ou pesquisas de entidades governamentais alemãs que possuem paralelos, em muitos casos, até mais consistentes no Brasil.
— A primeira coisa que um brasileiro que vem para cá deve pensar é que os caras estão desenvolvendo tecnologias para escassez de uma série de coisas que temos em abundância — indica.
Parcerias com potencial de sobra para gerar negócios no Brasil
Coordenador da área de indústria inteligente do Sebrae-RS, Fabiano Dallacorte acrescenta: o que há de mais relevante é identificar oportunidades. Isso é válido, diz, para novas parcerias, melhoria ou adaptação de produtos ofertados por aqui, mas com potencial de sobra para gerar negócios no Brasil. E foi isso o que aconteceu por aqui, argumenta:
— O mais importante é que os brasileiros estão fazendo parcerias entre si para oferecerem produtos e serviços até então fora dos portfólios e isso aqui na própria feira — revela em referência a uma ideia antecipada por GZH na terça-feira (18), entre as gaúchas FlokiSys (empresa voltada ao desenvolvimento colaborativo de softwares) e a Transmaq (indústria que atua desde 1972 com redutores de velocidade).
Quando o assunto é a transição energética, ele identifica uma sinalização para que no futuro as empresas que atuam com plantas fotovoltaicas necessitem realizar a integração das plantas com a finalidade de adaptação para a geração de hidrogênio verde com o que hoje é apenas crédito por excedente de produção.
Das 60 empresas gaúchas na missão, 20 têm o apoio do Sebrae. Mais de um terço delas estão no setor de energia e, ainda que o movimento possa levar algumas décadas até se concretizar, as soluções estão em pleno debate durante a Hannover Messe de 2023.
Encontro de gerações
Participante da feira em 24 edições da feira, o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Petry, protagonizou na tarde desta quinta-feira (20) um encontro de gerações. É que ao olhar para trás em seu primeiro ano de Hannover Messe, na década de 1980, ele não imaginaria um dia estar abraçado em um robô. Este foi batizado de Deva é um modelo desenvolvido pela fabricante alemã de componentes Wago é pensado para servir de companhia para os humanos.
Além do aconchego, a máquina pode protagonizar algumas interações e troca de palavras com aqueles que formam filas para acompanhar a novidade. Petry lembra que o DNA da feira há 30 anos era a indústria metalmecânica e, que naquele tempo, a automação era um sonho distante.
O sonho de ver o Brasil parceiro da edição de 2026
E, por falar em sonho, ao longo da semana, o Petry participou de duas reuniões com representantes da Hannover Messe, a última delas na manhã de quinta-feira (20). Na pauta, o convite para que o Brasil seja o país parceiro em 2026. Neste ano a posição foi ocupada pela Indonésia, que roubou a cena na cerimônia de abertura, no domingo passado.
Já no país sede, a Alemanha, um segundo ato programado para dar continuidade à maior greve em três décadas, ocorridas no dia 27 de março deste ano, promete paralisar outra vez o setor de transportes, entre 3h e 11h da manhã, no horário local nesta sexta-feira. A manifestação que cobra aumentos salariais de 10,5% em razão da disparada da inflação reúne dois sindicatos que, juntos, abrigam a mais de 2 milhões de trabalhadores.
Em uma das agendas de Petry durante a Hannover Messe também estiveram encontros institucionais com a meta de elaborar ações conjuntas em mão de obra industrial entre o Brasil e a Alemanha.
Sotaque gaúcho nos pavilhões de automação
Entre os milhares de estandes da Hannover Messe há um deles em que o chimarrão e a expressão “tchê” convivem com idiomas europeus e asiáticos de igual para igual. É que no pavilhão 11, dedicado à automação e à indústria 4.0 está a Novus, de Novo Hamburgo, em mais uma participação na feira de Hannover: a 23ª.
Valério Galeazzi, diretor para o mercado europeu, comemora as visitações ao espaço neste ano e já antevê muito trabalho para dar continuidade aos contatos alinhavados durante o evento. No horizonte, antecipa ele, está a abertura de novos mercados – além dos mais de 60 países em que a empresa gaúcha já atua.
— Esperamos um pós-feira bastante agitado. Temos tecnologia e brigamos taco a taco com os grandes do mercado, razão pela qual chamamos a atenção inclusive de indianos e chineses interessados no que trazemos para a feira – comenta.
Pelo segundo ano consecutivo a empresa é a única representante do Estado em Hannover. Em 2023 são três os destaques: o lançamento de um sensor de nível à laser, cujas primeiras 2 mil peças já estão sendo entregues exclusivamente para uma montadora gaúcha de máquinas agrícolas. Outro que coleta dados e os transmite via rede de 4G ou 5G e, por fim, um controlador de processos modular com bluetooth e wi-fi que conecta a empresa com as demandas globais do momento na indústria 4.0
— Só em 2023 serão 10 feiras internacionais, ou seja, o planejamento mira o mercado global. Uma empresa tecnológica gaúcha, nacional, trazendo inovação para o mundo. 50% da nossa produção já é dedicada ao mercado global. Os produtos já nascem preparados para serem exportados.
* O repórter viajou a convite da Fiergs