Após reportar "inconsistências contábeis" nos balanços, em 11 de janeiro, a Americanas deu entrada no processo de recuperação judicial na quinta-feira (19). A empresa afirmou ter R$ 800 milhões em caixa e dívidas de R$ 43 bilhões.
A recuperação judicial da Americanas é a quarta maior da história do Brasil. Em termos de valores, a maior é a da Odebrecht (veja as 10 maiores abaixo).
A Americanas tem atualmente cerca de 44 mil funcionários. De acordo com a varejista, o processo de recuperação judicial tem objetivo de "manutenção de empregos, pagamento de impostos e a boa relação com seus fornecedores, credores e investidores de forma geral".
Confira abaixo os 10 maiores pedidos de recuperação judicial no Brasil:
Odebrecht
Em junho de 2019, a empresa ingressou com pedido inicial, com dívidas totais estimadas em R$ 98,5 bilhões. A recuperação judicial segue em andamento.
Fundada em 1944, a Odebrecht se transformou em uma das maiores construtoras do Brasil nas décadas seguintes, até ser diretamente impactada pelo envolvimento em esquemas de corrupção revelados na Operação Lava-Jato, o que fez a empresa começar a ter dificuldades financeiras. Ainda em 2020, a companhia mudou de nome, passando a se chamar Novonor.
Oi
Resultado da fusão entre a Oi e a Brasil Telecom, a Oi entrou com pedido de recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro em junho de 2016. Na época, a companhia devia R$ 65,38 bilhões para cerca de 55 mil credores, e as renegociações para reestruturar os débitos haviam fracassado. Seis anos depois, a dívida bruta da Oi havia caído quase três vezes, somando cerca de R$ 21,92 bilhões no segundo semestre de 2022.
Em dezembro de 2017, os credores aprovaram o plano de recuperação judicial, que reduziu os passivos em 40% por meio da conversão das dívidas em participação acionária na companhia. Em 2022, o juiz Fernando Viana, da 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, decretou o encerramento do processo.
Samarco
Fundada em 1977, a Samarco Mineração S/A entrou com pedido de recuperação judicial em abril de 2021, tendo deferido o processamento no mesmo mês, pelo Juízo da 2ª Vara Empresarial de Belo Horizonte. As dívidas da empresa, que pertence às gigantes Vale e BHP Billiton, na época somavam cerca de R$ 50 bilhões.
A empresa começou a ter dificuldades financeiras após o rompimento em 2015 da barragem em Mariana, controlada pela empresa, que acabou tendo sua produção temporariamente suspensa. A recuperação judicial segue em andamento.
Americanas
A Americanas ingressou com pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023, na Justiça do Rio de Janeiro. A empresa precisou recorrer à medida após a divulgação de inconsistências contábeis, que revelaram dívidas que somam cerca de R$ 43 bilhões.
De acordo com o pedido, o Conselho de Administração da Americanas criou um comitê independente, formado por profissionais, que será responsável por investigar e apresentar suas conclusões aos acionistas, ao mercado e à sociedade em geral. O pedido foi deferido pela Justiça em 19 de janeiro de 2023, devendo a empresa nos próximos meses apresentar o plano de recuperação detalhado.
Sete Brasil
A Sete Brasil é uma empresa de investimentos formada em 2010, especializada em gestão de ativos voltados para a exploração na camada de pré-sal. A empresa, que seria responsável pela construção de dezenas de sondas para perfuração de poços, chegou a cerca de R$ 19 bilhões em dívidas em 2016, quando ingressou com pedido de recuperação judicial. O plano foi aprovado somente em 2018, e o processo segue em andamento.
OGX
A OGX, fundada em 2007, era uma empresa pertencente ao grupo EBX, do empresário Eike Batista. A companhia atuava com a exploração e produção de petróleo e gás natural. Em outubro de 2013, a OGX — que era a maior empresa do grupo de Eike na época — ingressou com pedido de recuperação judicial, somando dívidas de aproximadamente R$ 13 bilhões na época.
Em 2017, a recuperação judicial da empresa foi encerrada. Ainda no mesmo ano, após o encerramento do processo, a OGX mudou de nome, passando a se chamar Dommo Energia S.A, ainda em operação.
OAS
O Grupo OAS, fundado em 1976, era um conglomerado que atuava no ramo da engenharia civil. Assim como a Odebrecht, os negócios do grupo foram diretamente impactados pelo envolvimento em esquemas de corrupção revelados no âmbito da Lava-Jato, o que deu início aos problemas financeiros.
Em março de 2015, com dívidas de aproximadamente R$ 11 bilhões, apresentou pedido de recuperação judicial de nove de suas empresas à 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo. Em 2020, quando as dívidas já somavam cerca de R$ 800 milhões, o processo de recuperação judicial foi encerrado. Em 2021, o grupo passou a se chamar Metha, e segue atualmente em operação.
Grupo João Santos
O Grupo João Santos é um conglomerado de empresas fundado pelo empresário pernambucano de mesmo nome. Entre as empresas do grupo, se destaca a Cimento Nassau, fundada em 1951.
Após a morte do empresário, em 2009, o grupo começou a enfrentar dificuldades administrativas, motivadas principalmente pelos problemas de relacionamento entre os herdeiros. Depois de investigações de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e outros crimes, as empresas do grupo começaram a enfrentar uma grave crise financeira, chegando a dívidas de aproximadamente R$ 11 bilhões — que levaram ao pedido de recuperação judicial, que foi ingressado em 2022 e segue em andamento.
Ecovix
A Ecovix é uma empresa criada em 2010 para atuar no setor de construção naval e offshore, sendo responsável pelo estaleiro de Rio Grande. Em 2014, após a descoberta de irregularidades em contratos envolvendo a empresa, a Ecovix começou a enfrentar dificuldades financeiras. Em 2016, ingressou com o pedido de recuperação judicial, com dívidas de aproximadamente R$ 8 bilhões. O plano de recuperação da empresa foi homologado em 2018 e segue em andamento.
Grupo Schahin
O Grupo Schahin era um conglomerado de empresas ligadas a diversos setores da engenharia que foi fundado em 1965. Após décadas de atuação, as empresas do grupo começaram a sofrer com problemas financeiros após envolvimento nas investigações da Operação Lava-Jato, em 2014. Em 2015, o grupo ingressou com pedido de recuperação judicial, somando dívidas de aproximadamente R$ 6,5 bilhões. Em 2018, diante do não cumprimento do plano de recuperação, as empresas do grupo tiveram a falência decretada pela Justiça de São Paulo.