Após reportar "inconsistências contábeis" nos balanços, a Americanas ingressou com pedido de recuperação judicial no último dia 19, informando dívidas no valor de R$ 43 bilhões. O processo é o quarto maior da história do Brasil em termos de valores.
Quinta maior rede varejista do Brasil, a Americanas foi fundada em 1929, no Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, a marca chegou apenas sete anos depois, se estabelecendo na Rua dos Andradas, no centro de Porto Alegre, em 1936.
A história da Americanas
A Americanas tem um histórico quase centenário no Brasil, tendo se consolidado como um dos principais grupos de comércio e varejo do país. A marca tem esse nome por ter sido fundada por um grupo de empresários norte-americanos: John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger.
Em viagem de navio, os empreendedores inicialmente se dirigiam a Buenos Aires, com o objetivo de abrir uma loja com diversos produtos acessíveis a preços baixos, se valendo de um modelo que já fazia sucesso nos Estados Unidos no início do século passado. No caminho até a Argentina, o grupo de empresários conheceu um austríaco, Max Landesmann, e um brasileiro, Aquino Sales, que os convenceram a abrir o negócio no Rio de Janeiro.
Desta forma, a primeira loja da rede foi fundada em setembro de 1929, no município de Niterói. O slogan inicial da marca era "nada além de dois mil réis", reforçando a proposta de vender várias mercadorias de uso cotidiano a preços baixos e acessíveis.
Já ao final do primeiro ano de funcionamento, a rede contava com quatro lojas, sendo três no Estado do Rio de Janeiro e uma em São Paulo. Com o sucesso do negócio, o grupo decidiu abrir o seu capital em 1940, tornando-se uma sociedade anônima.
Chegada ao RS
Pouco antes disso, a rede inaugurou uma loja no Rio Grande do Sul. Segundo a Junta Comercial do Estado, a primeira unidade da Americanas em solo gaúcho foi aberta em Porto Alegre no dia 15 de outubro de 1936, ocupando o número 1.362 da Rua dos Andradas, já naquela época um dos principais centros comerciais da Capital.
A história da primeira unidade da Americanas em Porto Alegre também é marcada por uma tragédia. No dia 29 de dezembro de 1973, em razão de um curto-circuito, se iniciou um incêndio no interior da loja, matando cinco funcionárias que faziam uma festa de confraternização de fim de ano naquele momento.
Mudança na estrutura
Já em 1982, ocorre uma mudança significativa na estrutura da Americanas. Naquele ano, os principais acionistas do Banco Garantia, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, entraram na composição acionária da rede como controladores. Em 1994, a Americanas efetivou a formação de uma joint venture em parceria com o grupo Wal Mart (atual Walmart), dos Estados Unidos.
No final da década de 1990, a Americanas dá novo importante passo em sua trajetória. Em 1999, a rede inicia o serviço de vendas online, com a apresentação do site Americanas.com. Após breve período experimental, o portal teve lançamento nacional realizado em 2000.
Ao longo da primeira década do novo milênio, a marca buscou consolidar cada vez mais a atuação digital. Em 2005, o grupo adquiriu o Shoptime e o Ingressos.com, e, no ano seguinte, incorporou também o site Submarino.
O resultado desta operação foi a formação da empresa B2W, que centralizou o comércio eletrônico do grupo e funcionou até 2021, quando se fundiu com a Lojas Americanas S.A., criando assim uma única empresa, chamada Americanas S.A. Também em 2021, o trio de sócios majoritários abriu mão do controle societário da Americanas, se transformando em acionistas de referência, posição que mantêm até hoje.
Atualmente, a Americanas tem cerca de 3,6 mil lojas no Brasil, sendo aproximadamente 200 no Rio Grande do Sul. A empresa ainda emprega por volta de 44 mil funcionários em todo o país. Em setembro de 2022, de acordo com o Ranking Ibevar-FIA, a Americanas era a quinta maior varejista do Brasil, com faturamento anual de R$ 32,2 bilhões.
Já em 11 de janeiro de 2023, a empresa surpreendeu o mercado nacional ao comunicar "inconsistências contábeis" estimando dívidas em um primeiro momento no valor de R$ 20 bilhões. Pouco mais de uma semana depois, em 19 de janeiro, a empresa ingressou com um pedido de recuperação judicial, informando dívidas de R$ 43 bilhões.
A recuperação judicial da rede foi aceita pela Justiça do Rio de Janeiro no mesmo dia em que o pedido foi feito. Nos próximos meses, a empresa deverá apresentar um plano detalhado de recuperação, a ser aprovado novamente pela Justiça para não ter a sua falência decretada. Em comunicado publicado no sábado (21), a empresa afirmou que continua "aberta e pronta para compras e entregas, nas lojas, no site e no app".