Maior produtor nacional de noz-pecan, o Rio Grande do Sul vem colhendo a cada ano, literalmente, os frutos do avanço da cultura. A supersafra registrada no ano passado não se repete em 2022, como já esperavam os produtores, mas surpreende pela qualidade e consequente valor comercial.
A falta de chuva foi um dos fatores que reduziu a produção, apesar do aumento de 10% na área plantada. Estima-se que a colheita seja de 15% a 20% menor que a recorde de 2021. Em contrapartida, os momentos em que a seca aconteceu contribuíram para uma amêndoa de melhor qualidade.
– As frutíferas têm períodos de alternância, então é normal que a produção varie. Com o aumento da área plantada, imaginávamos que neutralizasse essa alternação. Mas o número não vai ser atingido em função da estiagem – avalia Demian Segatto, presidente do Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan).
A expectativa inicial de produção para a safra deste ano era de 4,2 mil toneladas. Mas dois problemas afetaram o final da colheita: a tempestade Yakecan, que derrubou muitas frutas das árvores, e as chuvas acima da média no último mês, trazendo excesso de umidade. Com isso, a estimativa é de que a safra fique próxima de 4 mil toneladas.
Os pés costumam produzir a partir de certa idade, ou seja, são cultivos para longo prazo. Segundo a Emater, a área em produção comercial (que se inicia, mais ou menos, a partir dos oito anos do pomar) soma em torno de 4,3 mil hectares no Rio Grande do Sul. Já a área total da cultura, incluindo as áreas plantadas há menos tempo, é 6,6 mil hectares.
Praticamente todo o Estado tem áreas propícias para o cultivo da noz-pecan. Mas duas regiões se destacam, conforme o gerente técnico da Emater, Antônio Borba: a Central, que concentra os pomares de maior escala e que tem em Cachoeira do Sul o maior pomar comercial da América do Sul, e o Vale do Taquari, tendo o município de Anta Gorda como polo. A cidade é conhecida como “a capital da noz-pecan”.
Em parte dos pomares, o cultivo ainda é artesanal, colhido manualmente por agricultores familiares. Caso da propriedade Testa, de Anta Gorda, onde a fruta divide espaço com outras culturas. São cinco hectares dedicados às nogueiras, com 320 pés plantados e 150 em produção – alguns com mais de 60 anos de idade, plantados pelos “nonnos”.
Um dos proprietários, o agricultor Diego Testa, conta que a produtividade neste ano chegou a 1,2 mil quilos. Abaixo do ano passado, quando foram mais de 2 mil quilos, mas de qualidade superior.
– Pelo menos aqui, a qualidade foi melhor. Produzimos uma amêndoa mais clara e amarelinha, diferente do ano passado – descreve Testa.
Na propriedade de Leandro Pitol, também de Anta Gorda, a produção também será menor. Serão entre 25 e 30 toneladas, contra 50 toneladas colhidas no ano passado. O pai do produtor foi um dos pioneiros no cultivo da noz-pecan na região, há cerca de 60 anos. Hoje, a produção soma 30 hectares ao todo, sendo 25 hectares de pomares e outros 5 hectares de viveiros.
– Há 15 anos, colocamos a agroindústria e desde então fazemos o ciclo completo. Vendemos a muda, compramos o produto, industrializamos e vendemos o produto industrializado – conta Pitol.
De olho na exportação
O maior destino da noz-pecan cultivada no Rio Grande do Sul é o mercado interno. O Estado também concentra 97% das indústrias do país responsáveis pelo beneficiamento da fruta, ou seja, que descascam a noz para o consumo.
Mas desde o ano passado, embalada pela supersafra, a produção gaúcha começou a prospectar novos mercados. Demian Segatto, presidente do Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan), diz que a fruta brasileira tem grande potencial no mercado internacional. Em 2021, 320 toneladas de noz-pecan na casca foram exportadas.
— Começamos a exportar de forma mais significativa no ano passado, depois de o Ministério da Agricultura incluir a noz-pecan nas rodadas com países que são parceiros comerciais. O Brasil passou a ser divulgado como grande produtor da fruta — comemora Segatto.
O Rio Grande do Sul possui período de produção inverso ao dos Estados Unidos e do México, ou seja, produzindo na entressafra dos dois países, que são os maiores produtores mundiais. Segundo o presidente do IBPecan, isso possibilita ao Brasil ofertar produto mais fresco e com menos tempo de prateleira.
O grupo Pitol, de Anta Gorda, concretizou no ano passado sua primeira exportação de nozes com casca para a Tailândia. Outro contêiner, de nozes já sem casca, teve a Alemanha como destino.
Um dos mercados potenciais para negócio a ser buscado pelo Brasil é a China. O país representa quase 100% do mercado mundial de noz-pecan na casca. Os demais países costumam comprar a noz já descascada (cerca de 80% do mercado mundial).