A estiagem severa que prejudica a agricultura no Rio Grande do Sul segue reduzindo a oferta de alguns alimentos no Estado, com impactos que se refletem também nos preços dos produtos. Na Centrais de Abastecimento do Estado (Ceasa), em Porto Alegre, onde 70% dos alimentos têm procedência gaúcha, a influência do clima não faz faltar produtos atualmente, mas limita a quantidade.
— Faltar, não falta. Mas cai bastante a oferta e depende muito da demanda. Como voltou o ano letivo, a correria pela intenção de compra é maior. E como os preços trabalham dentro da oferta e da procura, há altas — explica o gerente-técnico da Ceasa, Claiton Colvelo.
A maior parte dos produtores que abastecem a Ceasa possui plantações irrigadas. Mas a seca tem sido tão prolongada que reduziu a oferta de água mesmo nessas propriedades. Apesar da ocorrência de chuva nos últimos dias e da trégua nas altas temperaturas, alguns alimentos seguem mais sensíveis à condição climática.
Nas folhosas, cuja produção já é mais difícil no verão, o impacto é grande pela insolação, que queima as folhas. Uma dúzia de pés de alface, que custava entre R$ 8 e R$ 12, chegou a bater R$ 50 em fevereiro na Central — uma média de 300% de alta, segundo a Ceasa.
Na melancia, cujas lavouras são maiores e muitos produtores ainda não trabalham com irrigação, o quilo saltou de R$ 1,50 para R$ 2,20 — uma unidade pesa, em média, 10 quilos.
Há ainda os alimentos que somam impactos do clima anteriores à estiagem, comenta Colvelo. Banana, tomate e frutos de hortaliças como pepino, chuchu e abobrinha são alguns exemplos que tiveram atrasos no plantio e variaram de preço.
— No ano passado, quando os produtores estavam semeando, além do frio intenso, teve excesso de chuva e muitos dias nublados. Algumas culturas tiveram de ser replantadas, e o custo de produção já estava alto. Em outubro teve chuva forte e, depois, a seca — contextualiza o gerente-técnico.
Os preços dos produtos in natura são sensíveis a diversos fatores. A trégua do calorão no fim de fevereiro, com noites mais agradáveis, já influencia para uma redução de preços em alguns itens. O saco de vagem caiu de R$ 120 para R$ 50 com a chegada de carga nova na Central.
Supermercados
Nos supermercados, a Agas, associação do setor, garante que não há falta de produtos ou risco de desabastecimento. A preocupação maior fica em torno da qualidade dos alimentos em função da falta de chuva.
— O efeito nos hortifrútis é a precificação alta e a qualidade. O cliente, em relação à qualidade, ainda vai notar uma queda acentuada. Tem que estar atento ao item que tem e, se for o caso, substituir — diz Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados.
Em relação a preços, a alteração nas gôndolas vem de fatores que vão além da estiagem. É o caso da queda do dólar, que tende a reduzir o preço de commodities como o açúcar.
Em sentido contrário, há efeitos da alta do petróleo e da guerra entre Rússia e Ucrânia que ainda não entraram na conta e que poderão ser sentidos pelos consumidores em breve. Longo cita que o cenário provocará turbulência no mercado, fazendo com que a soja e o trigo, por exemplo, não tenham essa tendência de baixa de preços e acarretem em alta nos produtos derivados, como o pão.