Sinais de avanço nas negociações entre Rússia e Ucrânia em direção a um cessar-fogo despertaram o apetite por risco desde o Exterior, recolocando o Ibovespa aos 120 mil pontos pela primeira vez desde o fim de agosto do ano passado. O índice de referência da bolsa de valores (B3) fechou nesta terça-feira (29) em alta de 1,07%, aos 120.014,17 pontos, maior nível desde o encerramento de 27 de agosto (120.677,60), entre a mínima de 118.739,60, na abertura, e a máxima, de 120.900,02, o maior nível intradia desde 16 de agosto (121.191,45 pontos).
Nesta terça-feira, o giro financeiro ficou em R$ 36 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 0,78% e, no mês, 6,07%, faltando duas sessões para o encerramento de março. No ano, o ganho acumulado chega agora a 14,49%.
As indicações de que as partes beligerantes da guerra estejam mais próximas de agenda mínima para um diálogo sobre a suspensão das hostilidades tiraram pressão do petróleo, que estendeu correção nesta terça-feira. A expectativa de que "Moscou pode diminuir as demandas para um cessar-fogo contribuiu para o bom desempenho da maioria das bolsas", aponta, em nota, a Nova Futura Investimentos, especialmente na Europa, onde os ganhos nesta terça-feira chegaram a 2,79% (Frankfurt) e 3,08% (Paris). Em Nova York, destaque para o Nasdaq, em alta de 1,84% no fechamento.
Com a relativa distensão no leste europeu, a referência global de petróleo, o Brent, fechou em baixa de 1,63%, a US$ 107,71 por barril, em Londres, enquanto em Nova York a referência americana, o WTI, cedeu 1,62%, a US$ 104,24 por barril. Ainda assim, e mesmo com a nova queda de presidente da Petrobras por disputa com o governo sobre os preços dos combustíveis, os papéis ON e PN da estatal avançaram, respectivamente, 1,23% e 2,22% na sessão, em baixa para Vale ON (-0,86%) e para a siderurgia, com Gerdau PN (-2,02%) puxando a ponta negativa do Ibovespa, junto com Bradespar (-2,14%) e Cyrela (-2,91%).
— O nome de Adriano Pires foi bem recebido pelo mercado, é alguém do setor de petróleo e gás, com conhecimento técnico e respeitado na área. A substituição foi uma decisão política, sem dúvida, mas há percepção de que existe uma certa blindagem em relação à interferência (do governo) nos preços (dos combustíveis), o que se reflete também na diminuição da presença em refino — diz Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos.
Brito observa que, ao se distanciar da marca de US$ 120 por barril — a qual não corresponderia ao preço de equilíbrio —, o Brent ainda ofereceria boas condições de rentabilidade para a Petrobras, na faixa entre US$ 80 e US$ 100. No quadro mais amplo, a rápida progressão do Ibovespa ao patamar dos 120 mil pontos, sob o impulso do investidor estrangeiro na ponta compradora, com os institucionais e domésticos ainda retraídos, não cancela o poder de atração dos ativos brasileiros em comparação aos emergentes.
Os juros domésticos encerraram o dia em baixa pela sexta sessão consecutiva, enquanto o dólar, após o ajuste de segunda-feira (28), retomou a trajetória de queda frente ao real, nesta terça, em baixa de 0,31%, a R$ 4,7578 nos negócios à vista.
— Vemos um fechamento importante na curva de juros e o Ibovespa está com P/L a oito, nove vezes, ainda bastante descontado. Os investidores domésticos ainda não estão participando dessa festa, mas a recuperação começa a beneficiar também as ações e setores com exposição à economia interna, como construtoras, administradoras de shoppings, varejo — acrescenta Brito.
Na ponta do Ibovespa nesta terça, destaque para três nomes do comércio: Via (+8,63%), Americanas ON (+8,42%) e Magazine Luiza (+8,19%).