A geração de energia hidrelétrica no Rio Grande do Sul apresentou leve melhora. Caiu para sete o número de usinas com produção abaixo do programado, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgados no domingo (3). Há um mês, eram 11 (de um total de 15) nessa situação.
Mesmo com o avanço, 14 usinas já estão programadas para operar abaixo da capacidade no Estado (veja mais abaixo). Entre as usinas com produção de energia abaixo do programado, se destacam Barra Grande (-15,14%) e Jacuí (-14,52%).
Com a ligeira evolução no cenário hídrico no Estado, os reservatórios de água para geração de energia na Região Sul também apresentaram elevação, operando com 29,71% do potencial — nível ainda baixo. O resultado aponta crescimento de cerca de 2,8 pontos percentuais em relação ao início de setembro. Já a situação no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável por cerca de 70% das reservas do país, segue preocupante. As bacias da região operam com somente 16,58% da capacidade instalada.
O professor Guilherme Fernandes Marques, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos (Gespla) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que essa melhora no Estado ocorre diante da chuva registrada nas últimas semanas.
No entanto, o professor destaca que o avanço nos reservatórios do subsistema Sul não tem grande impacto no combate à crise hídrica no país neste momento, pois essa região tem participação menor no sistema nacional. O subsistema Sul é responsável por cerca de 7% do Sistema Interligado Nacional (SIN).
— A avaliação geral é de que essa melhora recente não permite tecer um prognóstico muito positivo, porque é uma melhora em um sistema pequeno e não está sendo previsto um avanço significativo de chuva — explica o coordenador do Gespla.
Edilson Deitos, diretor e coordenador do Grupo Temático de Energia do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), também afirma que um avanço com mais fôlego no Estado não seria o suficiente para reverter a crise hídrica em um cenário onde a chuva segue com volumes baixos no Sudeste. Mesmo com a tendência de diminuição no risco de racionamento, Deitos avalia que eventual melhora mais robusta no Estado teria interferência menor nesse movimento.
— O gargalo fica na Região Sudeste. A maior geração hídrica é em São Paulo. Se nós melhorarmos 100% aqui no Estado, não vamos atingir nem 1% para diminuir o risco de racionamento — exemplifica Deitos.
O Sudeste segue sendo castigado com a falta de chuva. A crise também afeta o abastecimento de água para a região. Na segunda-feira (5), o nível do Sistema Cantareira, reservatório de água que abastece a região metropolitana de São Paulo, registrou 29,9% de sua capacidade de operação, segundo boletim da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). É o nível mais baixo desde a crise hídrica que atingiu o manancial há cinco anos. O sistema está na faixa de alerta desde sábado (2).
Perspectivas
Na semana passada, a ONS divulgou boletim com projeção otimista em relação aos reservatórios do sul do país. O levantamento da entidade estima que os reservatórios chegarão ao fim de outubro em 49,8% na Região Sul e 44,6%, no Norte, até o fim de outubro. Já a operação as usinas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste deve seguir em queda e fechar o mês com 12,8%, o que mantém tom de preocupação no combate à crise.
O professor Marques, da UFRGS, afirma que a previsão de chuva na média ou pouco acima da média para as próximas semanas deve aumentar o número de usinas operando acima do programado no Estado. No entanto, ele reforça que o impacto no sistema nacional é pequeno.
— Agora em outubro e novembro, é um período no qual chove bem aqui. Então, a tendência é de que ocorra uma melhora localizada, mas me parece que não vai ser uma chuva muito acima da média. Pode melhorar, mas melhorar pouco — pontua Marques.