Das térmicas às usinas eólicas e fotovoltaicas, o Rio Grande do Sul contabiliza dezenas de projetos de geração de energia em diferentes etapas de execução — muitos inclusive prontos, à espera de investidores.
No médio e longo prazos, avalia Eberson Silveira, diretor do Departamento de Energia da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura, as iniciativas podem contribuir para tornar a matriz energética brasileira mais diversa, com um olhar especial às fontes renováveis:
— O Estado tem potencial, tem projetos e tem linhas de transmissão, que até pouco tempo eram um gargalo. Tem tudo, enfim, para entrar em um cenário de desenvolvimento nessa área.
Uma das principais apostas, além das usinas solares, que avançam a passos rápidos e tornam-se cada vez mais viáveis, é a força dos ventos. Após anos de entraves estruturais, obras cruciais para destravar projetos estão andando, com a construção de 2,9 mil quilômetros de linhas de transmissão e 10 subestações.
São cinco lotes, leiloados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em dezembro de 2018. A maior parte, conforme Silveira, está pronta ou será finalizada até 2022, antes do previsto. Com isso, novos empreendimentos poderão ganhar forma.
Para se ter uma ideia da dimensão disso, hoje a potência eólica instalada no Estado é de 1,8 gigawatts (GW). Os projetos somam 10,5 GW e estão, em sua maioria, em fase de licenciamento.
— Faz seis anos que não temos a construção de um novo projeto eólico. Eu tive a satisfação de erguer o primeiro parque do Brasil, em Osório. Fomos pioneiros, mas, de lá para cá, houve o problema com as linhas de transmissão que nos tirou dos leilões. Agora, somos a bola da vez. Falta só chutar — afirma Telmo Magadan, sócio-diretor da Brain Energy.
O empresário busca parceria para uma ideia ambiciosa em Tapes: o Complexo Eólico Capão Alto, que terá seis 69 aerogeradores. A iniciativa está licenciada e pronta para sair do papel.
— Agora é o momento de atrair o investidor, que se acostumou a ir para o Nordeste. Do ponto de vista empresarial, o que precisamos é de uma política pública mais agressiva para divulgar os atributos do Estado, uma campanha forte de marketing — defende Magadan, ex-secretário estadual de Planejamento.
A ameaça de racionamento também torna vital a ampliação da chamada energia firme, que independe do clima. Nessa linha, um projeto que previa investimento de até R$ 3 bilhões em Rio Grande, com a instalação de uma usina térmica e uma estação de regaseificação, ressurge como alternativa. A outorga para a execução do empreendimento havia sido cancelada, mas há esperanças de que a situação seja revista.
Há ainda o caso da térmica a gás de Uruguaiana, inaugurada em 2001, que poderia abastecer uma cidade como Caxias do Sul, mas que não opera por falta de insumo. A unidade acaba de ser comprada pela Âmbar, do Grupo J&F, comercializadora de gás natural. O governador Eduardo Leite já pôs o Estado à disposição para ajudar na retomada da produção.
Outro tema que retorna ao debate em razão da crise no setor é a pressão pela modernização do parque térmico a carvão, um assunto controverso, alvo de resistência por questões ambientais. No Estado, estão 89% das reservas nacionais desse mineral.
— É polêmico, mas temos de encarar isso: qualquer país, mesmo em processo de descarbonização, não abre mão dessa segurança, ainda mais em momentos de escassez hídrica. Não devemos descartar nenhuma fonte de energia. Deve haver complementaridade — diz Edilson Deitos, do Grupo Temático de Energia e Telecomunicações da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs).