Principal índice da bolsa de valores brasileira (B3), o Ibovespa zerou nesta semana as perdas que haviam sido registradas ao longo de 2021. Contudo, investidores adotam cautela na avaliação do cenário e seguem de olho na turbulência política que envolve o governo federal e o Congresso.
O temor do mercado financeiro é de que a tensão em Brasília prejudique ainda mais as discussões da área econômica. Entre elas, está a novela sobre o orçamento deste ano, que embute riscos fiscais. Os desdobramentos da pandemia também continuam no radar.
O Ibovespa zerou as perdas do ano porque, na terça-feira (13), retomou o nível dos 119 mil pontos. O índice estava nesse patamar na virada de 2020 para 2021.
Nesta quarta-feira (14), o indicador voltou a subir. Fechou a sessão com alta de 0,84%, aos 120.294 pontos. Já o dólar caiu 0,82%, cotado a R$ 5,67.
Sócio-fundador da gestora Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho avalia que a recente melhora do Ibovespa pega carona no cenário externo. Com a perspectiva de recuperação da economia mundial no pós-pandemia, ações ligadas a commodities (matérias-primas) vêm sendo beneficiadas. Ou seja, esses papéis acabam puxando o desempenho da bolsa para cima.
— Quando falamos de Ibovespa, o tema que está se sobressaindo é a alta de preços de commodities. O mercado está consolidando uma leitura de que o mundo vai se recuperar no pós-coronavírus. Isso demandaria commodities — pontua.
Bianchi Filho, por outro lado, menciona que há "grande preocupação" com o quadro fiscal do país. É que o orçamento apresentado para 2021 turbinou o risco de descontrole nas contas públicas. O projeto inclui elevação nos recursos destinados para emendas parlamentares.
— O Brasil já vinha em dificuldades fiscais. Volta e meia há discussões sobre o estouro do teto de gastos. Com a pandemia, o governo teve de despejar dinheiro na economia. Agora, uma nova rodada (de ajuda) é importante, porque não se pode deixar pessoas e empresas descobertas. Mas a questão é que teríamos de discutir contrapartidas, racionalizar verbas aqui e ali. O governo não vem conseguindo dar uma âncora para a política fiscal — afirma o analista.
A variação do Ibovespa é calculada com base nas ações de grandes empresas que representam cerca de 80% do número de negócios no mercado de capitais, conforme a B3. Quando se diz que a bolsa teve alta de 1% ao final de uma sessão, é porque o índice, em pontos, também subiu 1%.
Reflexos da CPI
Na visão de analistas, um fator de risco no cenário é a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que deve investigar a atuação do governo Jair Bolsonaro na pandemia, além de repasses federais a Estados e municípios durante a crise sanitária. A leitura do mercado é de que a CPI pode trancar o debate de pautas como a do orçamento.
— As commodities vêm puxando a bolsa. Outros setores, como empresas de construção e varejo, dependem mais do cenário doméstico. E, para o fortalecimento do consumo, o ambiente interno precisa estar menos volátil. Vivemos uma crise de saúde pública, e, além disso, existe um cenário político instável e nocivo. Há uma briga entre Executivo e Legislativo na CPI. Questões importantes para colocar o país nos trilhos, como orçamento e privatizações, ficam em segundo plano — aponta o economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini.
O economista João Leal, da gestora Rio Bravo Investimentos, considera que a melhora do Ibovespa "não é muito consistente" até o momento. Leal também destaca o desempenho do setor ligado a commodities e o avanço da vacinação no mundo, outro estímulo ao mercado. Contudo, a existência de riscos políticos no Brasil provoca incertezas, pondera o analista.
— A melhora do Ibovespa é mais recente. Não é muito consistente ainda. O investidor olha mais para o longo prazo. Neste momento, a vacinação contra a covid-19 e as commodities vêm apresentando um impacto mais forte no mercado — relata Leal.
Para entender
O que é bolsa de valores?
É o espaço em que investidores podem comprar e vender ações de empresas. No Brasil, a bolsa em operação é a B3 (antes chamada de Bovespa), com sede em São Paulo.
Como investir na bolsa?
É preciso que o interessado se cadastre em uma corretora registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Assim, pode abrir uma conta para iniciar as aplicações.
O que são as ações?
São pequenas partes de uma empresa. Ao abrir seu capital, uma companhia o divide em várias ações, oferecidas na bolsa para possíveis investidores. Quanto mais papéis eles comprarem, maior será a parcela na empresa.
Quais são os tipos de ações?
Ordinárias: dão direito a voto em assembleias que debatem os rumos das companhias.
Preferenciais: não concedem direito a voto em assembleias, mas garantem preferência no recebimento de dividendos – parcelas do lucro das companhias.
Há valor mínimo de investimento?
Não há valor mínimo. A quantia varia em cada caso, dependendo, por exemplo, do preço das ações de cada empresa.
O que é o Ibovespa?
É o principal índice da bolsa. Sua variação é calculada com base no desempenho das ações de grandes empresas listadas no mercado.
Há riscos nos investimentos?
Sim. Ações de empresas podem resultar em maiores rendimentos do que opções de renda fixa, como a poupança, mas também há chance de perdas. Em um dia, os papéis de uma companhia podem registrar alta expressiva e, na sessão seguinte, cair em igual magnitude.