Reflexos da pandemia, como menor fluxo de clientes e perda de renda de trabalhadores, jogam contra as vendas de Páscoa neste ano. Contudo, empresários de setores tradicionais da data apostam em estratégias diversas para driblar as dificuldades da crise sanitária e econômica. É o caso de fabricantes e lojas de chocolates artesanais no Rio Grande do Sul.
Às vésperas do dia festivo, que será celebrado no próximo domingo (4), empresas do ramo buscam intensificar negócios online. A parceria com redes de supermercados, que seguiram abertos na pandemia, é outra opção citada por quem depende da venda de chocolates.
Em Gramado, na Serra, fabricantes lamentam os recentes impactos das restrições a atividades turísticas. Com a crise sanitária, que atinge vendas presenciais, empresas como a Florybal investiram no e-commerce ao longo dos últimos meses, o que trouxe uma dose de alento para a Páscoa.
— É um ano bem complicado, porque a pandemia afeta o mercado de turismo. Assim, tentamos buscar saídas. Fizemos parcerias com redes de supermercados e investimos no canal online — aponta o diretor de marketing da Florybal, Tiago Cardoso.
Segundo ele, a marca já percebe uma alta de 15% nas vendas no formato digital, em relação à Páscoa do ano passado. Outra fabricante da Serra, a Chocolate Gramadense, também chega à data festiva com o modelo de negócios adaptado.
Diretor da empresa, Ezequiel Dias de Lima conta que a companhia buscou vender mais para supermercados nos últimos meses, além de focar no e-commerce e nos negócios com revendedores. São eles que levam os produtos até as casas dos clientes.
Antes da pandemia, a fabricante centrava seu atendimento no ramo corporativo. Nesse formato, funcionários de empresas parceiras podem adquirir os produtos, e o valor é descontado na folha de pagamento, por exemplo.
— A gente se adaptou para outro tipo de comércio — pontua Lima.
Na Capital, a situação é semelhante: lojas de chocolates também redesenham atividades em tempos de covid-19. Uma operação da Kopenhagen no bairro Bela Vista ilustra esse quadro.
No ano passado, a unidade resolveu apostar no modelo de drive-thru. Ao longo dos meses, o serviço ganhou fôlego e virou alternativa para as vendas de Páscoa, enquanto a pandemia não vai embora. Nesse sistema, o cliente recebe o catálogo de produtos de maneira online, faz as encomendas e retira os pedidos em frente à loja, sem a necessidade de descer do carro.
— Houve aceitação do público. A pandemia teve piora, mas os clientes não querem deixar de comprar — comenta a gerente da unidade, Michele Arend.
A empresária administra outras três operações da marca em shoppings de Porto Alegre — Iguatemi, Moinhos e Praia de Belas. As unidades também apostam no modelo de delivery.
E como fica o comércio em geral?
Esta é a segunda Páscoa atípica no Estado, já que os primeiros casos de coronavírus foram registrados em março de 2020. O presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), Sérgio Galbinski, ressalta que o comércio como um todo é prejudicado pelos efeitos da crise, incluindo o desemprego, às vésperas da data. Mesmo assim, o dirigente espera melhora gradual nos negócios depois da reabertura de lojas no Estado, ocorrida na semana passada.
— Logo após a retomada, a situação continua bem difícil. Na última semana, teve gente que vendeu 20% ou 30% do que venderia normalmente — diz. — As coisas vão melhorando com o passar do tempo — acrescenta.
No ramo de supermercados, o clima também é de cautela. Conforme a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), itens da Páscoa devem representar menos de 3% do faturamento do setor nos 30 dias que antecedem a data. Em anos anteriores, esse percentual era superior, na faixa de 6%, diz o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo.
— Estou há 40 anos no ramo. Pela primeira vez, não se fala tanto em Páscoa, em consideração aos setores que foram mais impactados pela pandemia. O foco está nos produtos da cesta básica. Claro, vai haver a divulgação, mas não vai se viver tanto a data, em respeito a lojistas — comenta Longo.