Com a retomada de atividades econômicas, a taxa de desemprego teve alívio entre outubro e dezembro no Rio Grande do Sul. No quarto trimestre de 2020, o indicador recuou para 8,4%, depois de alcançar 10,3% nos três meses anteriores.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados nesta quarta-feira (10). Os dados, contudo, ainda não refletem os impactos da recente piora da pandemia no Estado, que hoje enfrenta restrições da bandeira preta no modelo de distanciamento controlado. A situação preocupa analistas.
Conforme o IBGE, o Rio Grande do Sul tinha 476 mil desempregados no quarto trimestre de 2020. No terceiro, o número era maior, de 574 mil – 98 mil a mais. Uma pessoa é considerada desocupada quando não tem trabalho, com ou sem carteira assinada, e continua em busca de novas oportunidades profissionais.
Apesar da trégua em relação ao período de julho a setembro, a taxa de desemprego subiu se comparada ao quarto trimestre de 2019, quando a covid-19 ainda não abalava a economia. À época, o índice era de 7,1% no Rio Grande do Sul, com 441 mil desempregados. A taxa de 8,4%, verificada em 2020, é a maior para o quarto trimestre na série histórica do IBGE, iniciada em 2012.
– Com menos restrições, a atividade econômica se movimentou no final do ano passado. Assim, a taxa de desemprego caiu em relação ao terceiro trimestre, embora ainda esteja alta se comparada ao mesmo período de anos anteriores – pontua o economista Guilherme Stein, professor da Unisinos.
Na prática, o indicador mede o percentual de desocupados em relação à força de trabalho, que é composta por desempregados e ocupados. Com os efeitos do coronavírus, a taxa média anual de desemprego foi de 9,1%, no Estado, em 2020. Também é a maior da série. Segundo o IBGE, outras 19 unidades da federação tiveram recorde nesse indicador.
– Tradicionalmente, o desemprego cai no último trimestre de cada ano, com aumento das contratações temporárias e maior movimentação do comércio. Em 2020, percebemos o efeito da pandemia no mercado de trabalho, e ainda houve o impacto da estiagem no Estado – avalia o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank.
Alta nos ocupados
Na reta final do ano passado, o número de ocupados chegou a 5,222 milhões no Rio Grande do Sul. O grupo contempla profissionais com trabalho formal ou informal. O resultado indica melhora gradual na abertura de vagas, se comparado ao terceiro trimestre. Na ocasião, o Rio Grande do Sul tinha 4,974 milhões de ocupados.
Em relação ao quarto trimestre do ano anterior, a situação é diferente. No período de outubro a dezembro de 2019, o Estado somava 5,728 milhões de ocupados – 506 mil a mais. Moral da história: o indicador apresentou avanço nos últimos meses, mas ainda está aquém do nível pré-pandemia. As informações integram a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
– Houve melhora na ocupação frente ao terceiro trimestre. Por outro lado, na comparação com o mesmo período do ano anterior, o mercado de trabalho teve queda. Com menos gente ocupada, há menos consumo – frisa Walter Rodrigues, coordenador da pesquisa do IBGE no Estado.
O instituto informou ainda que o grupo fora da força de trabalho foi de 4,023 milhões no quarto trimestre de 2020. Essa parcela reúne pessoas que não estavam ocupadas, nem procurando trabalho. No terceiro trimestre, o grupo era maior, formado por 4,107 milhões de integrantes.
Entre outubro e dezembro, a taxa de desemprego gaúcha (8,4%) foi a segunda menor do país. Santa Catarina registrou o índice mais enxuto, de 5,3%. As maiores taxas de desocupação foram registradas em Alagoas e Bahia (20%).
No aguardo da vacina em 2021
Nas últimas semanas, a piora da pandemia paralisou empresas no Rio Grande do Sul. Conforme analistas, o quadro coloca em risco empregos e reforça a necessidade de avanços na vacinação contra a covid-19. A imunização é considerada peça fundamental para frear o coronavírus e permitir retomada de setores como comércio e serviços.
– A história que era contada até janeiro mudou dramaticamente. A pandemia voltou com tudo, pegou em cheio o Rio Grande do Sul. Obviamente, restrições da bandeira preta têm impacto na atividade econômica. O mercado de trabalho é consequência da atividade. A vacina é a única forma de escaparmos do abre e fecha de empresas – sublinha o economista Guilherme Stein, professor da Unisinos.
Outro fator que impacta o mercado de trabalho é a perda de programas de estímulo à economia e preservação de empregos na largada de 2021. Em meio às restrições fiscais atravessadas pelo país, o governo federal deve retomar o auxílio emergencial com valor reduzido. Espera-se que as parcelas fiquem em R$ 250.
A volta do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), que autorizou redução de jornada e salários em 2020, também é discutida. Contudo, ainda não há uma definição sobre a retomada da iniciativa.
– Já era esperado que o mercado de trabalho tivesse dificuldades no começo de 2021, já que programas de amparo à economia deixaram de existir. O governo não tem como sustentar a demanda por prazo indeterminado. Com o recrudescimento da pandemia, o cenário é mais difícil, complicado, para o mercado de trabalho – define o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank.