Em 2020, o setor de serviços sofreu duro golpe da pandemia no Rio Grande do Sul. No acumulado do ano, despencou 12,7% em volume, a maior queda entre os segmentos pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na visão de analistas, o quadro reforça a necessidade de avanço na vacinação contra o coronavírus.
A imunização traz possibilidade de freio na covid-19 e, assim, tende a espalhar estímulos na economia. Para reagir com maior vigor, o setor de serviços depende de menores restrições. É que o segmento reúne atividades marcadas pela circulação de consumidores. Entre elas, estão transporte, turismo, eventos, hospedagem e alimentação fora de casa.
— Não há dúvida, a economia não vai longe sem a vacinação intensa. Sem esse processo, o setor de serviços continuaria com dificuldades para se recuperar. Ao andarmos pelas ruas de Porto Alegre, por exemplo, vemos estabelecimentos que foram fechados durante a pandemia ou com placas de “aluga-se” — ressalta Fernando Ferrari Filho, professor de Economia da UFRGS.
Economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank também chama atenção para a importância do controle da pandemia.
— Por que o setor de serviços foi mais afetado pela crise? Porque reúne categorias que dependem mais da interação humana. Não há como demandar, por exemplo, uma hospedagem a distância — ilustra. — Precisamos encontrar soluções para frear o problema sanitário. Isso é fundamental — acrescenta.
Os dados já divulgados pelo IBGE também englobam o comércio e a produção industrial. O varejo teve a menor baixa entre os setores no Estado. No acumulado de 2020, as vendas recuaram 2,2%. Para analistas, um conjunto de fatores ajuda a explicar a redução menos intensa.
Durante a pandemia, parte do comércio apostou na venda online para minimizar os prejuízos. Além disso, ramos como o de supermercados conseguiram atender a uma demanda perdida por outras atividades. Um exemplo: consumidores diminuíram a ida a restaurantes e passaram a comprar mais alimentos para preparo de receitas em casa. Por fim, a pesquisa do IBGE sobre o varejo contempla somente empresas com pelo menos 20 pessoas ocupadas.
Já a produção industrial, terceiro indicador divulgado pelo instituto, caiu 5,4% no Rio Grande do Sul. Ramos como o coureiro-calçadista e o de veículos automotores foram atingidos em cheio pelo coronavírus. Se serve de consolo, fábricas diversas conseguiram adaptar protocolos sanitários e continuaram operando durante o ano, o que amenizou os efeitos da crise.
Combinação
Na comparação com o Brasil, o Rio Grande do Sul teve desempenho inferior nos três setores em 2020. No país, houve queda de 7,8% em serviços, enquanto a produção industrial recuou 4,5%. No sentido contrário, as vendas do comércio registraram avanço de 1,2% na média nacional.
Um dos fatores que explicam o cenário mais adverso no Estado é a estiagem. No ano passado, a seca castigou lavouras, espalhando reflexos negativos pelo restante da economia gaúcha.
— Além da pandemia, o Rio Grande do Sul teve estiagem que impactou a safra de grãos. Foi uma combinação com efeitos nefastos para a economia — sublinha Frank.
Ferrari Filho acrescenta que a crise fiscal vivida pelo Estado foi obstáculo para eventuais ações de estímulo a atividades na pandemia. Ou seja, os gaúchos ficaram dependentes de transferências do governo federal, incluindo o auxílio emergencial dado a grupos como o de trabalhadores informais.
— A crise fiscal cria dificuldade adicional para o Estado — diz o professor da UFRGS.
Em 2021, o Rio Grande do Sul pode ter alento com o desempenho da agropecuária, após a seca registrada no ano passado. Contudo, analistas destacam que ainda é preciso aguardar para confirmar se as condições climáticas não trarão novos prejuízos.
Perspectiva de retomada na carona com o país
Depois da crise vivida no ano passado, a perspectiva é de retomada da economia gaúcha em 2021. A velocidade de reação, entretanto, ainda gera incertezas. Em parte, a recuperação está condicionada ao comportamento da economia brasileira. Com a piora da pandemia em parte dos Estados, o presidente Jair Bolsonaro é pressionado a tirar da gaveta novas rodadas do auxílio emergencial. Na quinta-feira, Bolsonaro indicou que o benefício será retomado a partir de março, o que pode gerar estímulo à atividade econômica.
O valor do auxílio, entretanto, deve ficar abaixo do desembolsado em 2020 – as parcelas começaram em R$ 600, caindo para R$ 300 no segundo momento.
— No primeiro trimestre deste ano, devemos viver uma situação relativamente difícil. No início de janeiro, políticas de estímulo à economia não foram renovadas, e houve aumento de restrições a atividades em parte do país. Com um auxílio bem focalizado por alguns meses, acredito que vamos ter uma recuperação lenta e gradual, e o cenário pode ficar um pouco melhor a partir do segundo trimestre — analisa o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank.
Professor de Economia da UFRGS, Fernando Ferrari Filho frisa que tanto o Rio Grande do Sul quanto o Brasil devem apresentar reação em 2021, devido, especialmente, à base fraca de comparação. O professor ressalta que o desemprego em alta ameaça o consumo.
— Claro, vai haver recuperação, em razão da base de comparação. Tem pessoal dizendo que a economia vai bombar. Fico com um pé atrás — pondera Ferrari Filho.