Após subir no acumulado de 2020, com o impacto da pandemia, o número de pedidos de seguro-desemprego iniciou 2021 em baixa no Rio Grande do Sul. Em janeiro, foram 26.318, o que representa queda de 19,9% frente a igual mês do ano passado. É o menor volume para o intervalo desde 2010, indicam dados do Ministério da Economia.
O movimento de recuo ganhou força ao longo do segundo semestre de 2020. Segundo especialistas, a recente trégua reflete, em parte, a reabertura de atividades nos últimos meses, depois de demissões em massa no começo da pandemia. Outro fator citado é a adesão a medidas do governo federal para suporte a empresas e trabalhadores, o que estimulou negócios e freou cortes de vagas em 2020.
A questão é que programas como o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), que autorizou redução de jornada e salários, terminaram na virada do ano. O Ministério da Economia já sinalizou que estuda renovar o BEm, mas a volta ainda não foi confirmada. O impasse acende sinal de alerta no mercado de trabalho, já que os números da pandemia pioraram em parte do país, elevando restrições em diversas regiões.
– A retomada da atividade econômica aconteceu e ajudou a evitar o corte de mais empregos. Mas isso não quer dizer que já exista uma reação consistente. Se o número de pedidos de seguro-desemprego ainda estivesse crescendo, seria mais um sinal de preocupação no Estado – observa o economista Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUCRS.
O seguro é destinado a trabalhadores formais demitidos sem justa causa. Em 2020, os pedidos dispararam com a chegada do coronavírus. Na fase inicial da pandemia, o Estado chegou a registrar 66.827 solicitações apenas em maio.
Na sequência, os requerimentos perderam fôlego em meio à reabertura de empresas (veja gráfico). No acumulado de 2020, o Rio Grande do Sul teve 419.458 pedidos do benefício, quase o dobro da população de Alvorada (211,4 mil habitantes). O número do ano passado representa avanço de 1,9% frente a 2019. À época, houve 411.505 requerimentos.
– A maior parte das demissões ocorreu no início da pandemia. Depois, o mercado de trabalho se ajustou a novo ritmo de operação. A retirada abrupta de programas de estímulo deu uma chacoalhada na economia neste primeiro trimestre. O problema agora é como superar as dificuldades e gerar empregos – ressalta o economista Marcos Lélis, professor da Unisinos.
Pressão
A trégua nos pedidos de seguro no Estado pega carona no embalo nacional. Em janeiro, o Brasil teve 477,8 mil solicitações do benefício. A marca corresponde a recuo de 16% na comparação com igual mês do ano passado (568,6 mil).
O acumulado de 2020, por outro lado, aponta alta. De janeiro a dezembro do ano passado, o país registrou 6,784 milhões de requerimentos, avanço de 1,9% frente a 2019 (6,655 milhões).
Especialistas frisam que a retomada consistente do mercado de trabalho depende da recuperação da economia como um todo. No início de 2021, além do fim de programas de estímulo aos negócios, atividades são ameaçadas por novas incertezas relacionadas à pandemia no país. O processo de vacinação contra a covid-19 traz doses de alento, mas ainda caminha em velocidade aquém da esperada.
Diante da situação, o presidente Jair Bolsonaro foi pressionado a renovar o auxílio emergencial. Mas, devido às restrições fiscais do país, a expectativa é de que o benefício, voltado a trabalhadores informais, tenha o valor reduzido a partir de março. São cogitadas parcelas de R$ 250.
Em 2020, os depósitos começaram em R$ 600 e, depois, caíram para R$ 300. O auxílio preservou a renda de parte da população na pandemia, incentivando o consumo de produtos como alimentos.
Vacina é desafio inicial
A vacinação contra a covid-19 é o primeiro desafio a ser vencido para melhorar o ambiente de negócios e beneficiar o mercado de trabalho, dizem especialistas. O freio na pandemia é aguardado para que setores como o de serviços tenham menos restrições no país. Dentro desse segmento, conhecido por ser o maior empregador no Brasil, há atividades que dependem da circulação de consumidores, como turismo, gastronomia e eventos.
Em janeiro, trabalhadores do setor de serviços responderam por 10.035 pedidos de seguro-
desemprego no Rio Grande do Sul. O número corresponde a 38,1% do total de solicitações no período (26.318). Em seguida, vieram profissionais do comércio (29,5%) e da indústria (20,5%), conforme o Ministério da Economia.
– A primeira questão é a vacina. É preciso garantir que as pessoas circulem com maior tranquilidade. A segunda questão é manter auxílios emergenciais neste momento. O avanço de reformas é importantíssimo, mas não tem impacto direto agora – pontua o economista Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUCRS.
O economista Marcos Lélis também chama atenção para a necessidade de conter a covid-19. Pensando em prazo mais longo, o professor da Unisinos cita dois desafios adicionais para a recuperação de negócios e empregos. O primeiro é formado pelos gargalos na área de infraestrutura, que inibem investimentos no Estado e no país. O outro é a elevada desigualdade social que assombra o Brasil, diz:
– Precisamos que a vacinação ocorra de forma mais acelerada para diminuir os casos de coronavírus. Mas não é só isso. A infraestrutura precisa de melhorias. A desigualdade é elevada no país. Isso forma uma barreira para o crescimento da economia.