Em meio às incertezas da pandemia, o Rio Grande do Sul voltou a apresentar saldo positivo no mercado de trabalho formal. Em fevereiro, o Estado gerou 29.587 empregos com carteira assinada. Trata-se do segundo mês consecutivo com desempenho no azul.
Na prática, o saldo mostra que as contratações superaram as demissões no período. Em fevereiro, o indicador refletiu a diferença entre 117.994 admissões e 88.407 cortes. Divulgados nesta terça-feira (30), os dados integram o Caged, o cadastro de empregos formais do Ministério da Economia.
O resultado gaúcho pega carona no embalo nacional. No mês passado, o Brasil também teve desempenho positivo, com abertura de 401.639 vagas formais. O resultado decorreu da diferença entre 1.694.604 admissões e 1.292.965 desligamentos.
Com o saldo de fevereiro, o Rio Grande do Sul reforça os sinais de melhora no mercado de trabalho, depois das demissões em massa no início da crise sanitária. O Estado, contudo, ainda não recuperou todas as vagas destruídas ao longo da pandemia.
De março de 2020, quando a chegada do coronavírus foi registrada, até fevereiro de 2021, o saldo seguiu negativo, com perda de 2.143 postos formais.
Na visão de analistas, a melhora gradual pode ser interpretada como reflexo da retomada da atividade econômica. O que preocupa é a recente piora da pandemia, que causou restrições maiores na reta final do mês passado.
À época, empresas de setores como comércio e serviços foram paralisadas, em uma tentativa do Piratini de frear a circulação do vírus. A reabertura dos negócios ocorreu com a volta da cogestão na última semana.
— O cenário até fevereiro era de retomada de atividades. Mas a fotografia mudou de lá para cá. Entre o final de fevereiro e março, a pandemia fez com que o Estado impusesse medidas mais restritivas — afirma o economista Guilherme Stein, professor da Unisinos.
Fevereiro na série histórica
A série histórica do Caged passou por revisão no ano passado. Em fevereiro de 2020, o Rio Grande do Sul havia criado 23.112 empregos. Ou seja, menos do que no último mês.
Já a série anterior teve início em 1992. Se comparado a esse levantamento, o desempenho gaúcho em fevereiro de 2021 também foi o maior para o mês desde o começo dos registros, a exemplo do que ocorreu no Brasil. Entretanto, parte dos analistas desaconselha o cruzamento das séries, em razão da mudança metodológica.
— A geração de empregos estava em linha com a atividade econômica. De alguma forma, a economia vinha em recuperação até fevereiro — frisa o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank.
— Estamos começando a ver os indicadores de março. Houve uma sinalização muito ruim dos índices de confiança. Não dá para dizer que teremos mais demissões do que contratações a partir de agora. Mas, provavelmente, teremos um crescimento menor na geração de vagas — completa.
Indústria puxa resultado
O Caged também traz o desempenho dos setores no mercado de trabalho. No Rio Grande do Sul, os cinco grandes segmentos da pesquisa ficaram no azul em fevereiro.
O maior saldo foi o da indústria: 16.692. Em seguida, vieram serviços (7.617) e comércio (3.154). Construção (1.692) e agropecuária (432) apareceram depois.
Para analistas, a retomada consistente do mercado de trabalho dependerá do controle da crise sanitária. Ou seja, espera-se que a vacinação contra a covid-19 ganhe velocidade no país.
Além disso, setores produtivos defendem a retomada de programas como o Benefício Emergencial (BEm). No ano passado, essa medida do governo federal autorizou a suspensão de contratos e o corte de jornada e salários, em troca da manutenção de empregos.
O Ministério da Economia estuda a volta da iniciativa. Entretanto, há impasse sobre a forma de financiamento. Em 2020, trabalhadores que tiveram contratos suspensos ou redução de jornada receberam compensação financeira do governo, calculada com base no seguro-desemprego.