Rasgada na segunda-feira (22) pelos prefeitos que insistiram em ignorar os sinais de agravamento da crise sanitária, a bandeira preta foi remendada pelo governador Eduardo Leite nesta quinta (25) e passará a valer em todas as regiões do Estado, com suas restrições severas à circulação de pessoas. A suspensão da cogestão regional valerá entre este sábado (27) e o domingo seguinte, dia 7 de março.
Na primeira parte da reunião com os prefeitos, Leite reapresentou sua proposta de suspender a cogestão por uma semana, mas disse que queria ouvi-los antes de tomar uma decisão. Depois de uma apresentação dramática da secretária da Saúde, Arita Bergmann, assumiu a palavra e anunciou que a decisão estava tomada:
— Trago para mim. A decisão é minha
Em vez de gráficos milimetricamente elaborados, como ocorre nas apresentações do governo, Arita expôs aos prefeitos slides mais simples, com mensagens diretas sobre a gravidade da situação no Estado.
A secretária mostrou que a quantidade de pacientes hospitalizados por covid-19 passou de 2.383, em 24 de janeiro, para 4.925, nesta quinta, o que equivale a um número maior do que a população de 230 cidades gaúchas. E explicou que, mesmo que fossem abertos 60 novos leitos de UTI por dia, o que é inviável, seria insuficiente para dar conta da demanda atual.
Um dos dados mais impactantes elencados por Arita é o que mostra a quantidade de pessoas internadas em UTI que estão indo a óbito. A média era de 60% no ano passado, mas o índice está subindo e chegou a quase 75% em fevereiro.
— Do jeito que estamos indo, está cada dia mais difícil — resumiu a secretária, enquanto a tela mostrava em letras garrafais: "Precisamos conter nível de transmissão e velocidade de propagação IMEDIATA E URGENTEMENTE".
Por fim, Arita demostrou que, na prática, o colapso já é uma realidade no Rio Grande do Sul, explicando que 30 pacientes considerados gravíssimos, com risco iminente de morte, aguardavam vagas em UTI na quarta-feira (24) à noite. Outros 64 pacientes em estado grave também esperavam por vagas naquele momento.
— Nosso departamento (de regulação) chega a fazer três, quatro rounds diários para começar, não só a classificar a lista de espera, mas principalmente fazer escolhas (sobre quem ocupará leitos) — disse a secretária da Saúde.
E completou:
— Hoje temos 12.029 vidas perdidas para o covid e, se nada for feito, teremos no mínimo 200 óbitos por dia e chegaremos, no dia 15 de março, a 15 mil óbitos.
Orientado pelo comitê científico e por um grupo de notáveis que o aconselha, Leite foi para a reunião convencido de que não tinha mais como protelar a ampliação das restrições, mas esperava a adesão dos prefeitos porque cabe a eles fazer cumprir os decretos. Ganhou um apoio importante, do Ministério Público, na pessoa do procurador-geral, Fabiano Dallazen. Já tinha recebido sugestão semelhante do Ministério Público Federal, das Defensorias Públicas do estado e da União, da Associação dos Juízes pela Democracia e, principalmente, dos médicos.
Entre os prefeitos, houve contestações, a começar pelo de Porto Alegre, Sebastião Melo, que relutava em suspender as atividades econômicas. Mas mesmo os que discordam garantiram que vão adotar os protocolos da bandeira preta, em respeito à determinação do Estado.
Pessoas que convivem com o governador relatam que ele passou os últimos dias debruçado sobre as planilhas e gastou horas e horas ouvindo relatos de médicos, entrevistas de especialistas e depoimentos de pacientes e familiares.
A decisão indica que o governador compreendeu a angústia de quem está na linha de frente e há alguns dias alerta para o colapso iminente, que agora se consumou. Já que a tragédia não pode ser evitada, o foco agora é reduzir os danos e salvar o maior número possível de vidas. Mesmo sabendo que a economia teve problemas em 2020 e terá outros com as restrições da bandeira preta, Leite está convencido de que não haverá como salvar as empresas se descuidar das vidas que correm risco imediato.
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