Atualização: na noite de sexta-feira (19), o juiz Eugênio Couto Terra suspendeu o retorno da cogestão e de atividades econômicas a partir da segunda-feira (22), atendendo pedido de liminar de sindicatos de diversas categorias do Estado. O governo tem 72 horas para se manifestar.
A perspectiva de reabertura de atividades do comércio e de serviços, na próxima semana, foi celebrada com ressalvas por lideranças empresariais no Rio Grande do Sul. Na visão de dirigentes de entidades, a retomada parcial dos negócios pode gerar alívio após a paralisação provocada pela piora da pandemia, que pressiona o sistema de saúde no Estado.
Contudo, parte dos empresários lamenta a permanência de restrições de horários durante a semana e de atividades nos sábados e domingos.
A possível volta dos negócios está relacionada ao retorno do modelo de cogestão a partir de segunda-feira (22), confirmado pelo governo estadual nesta sexta (19). Na prática, a cogestão permite que municípios adotem protocolos mais flexíveis do que a bandeira em vigor no sistema de distanciamento controlado.
Pela quarta semana consecutiva, todo o Estado ficou sob bandeira preta. Mas, com a volta da cogestão, prefeituras podem seguir protocolos da vermelha, garantindo a reabertura de atividades econômicas suspensas nas últimas semanas.
Segundo o governo, o Estado permanecerá com restrição de horários a atividades, entre 20h e 5h, durante a semana. Aos finais de semana e feriados, fica determinada a restrição a setores considerados não essenciais durante todo o dia de forma presencial. As exceções são os serviços essenciais, como farmácias, supermercados e comércio de materiais de construção. As regras devem valer pelo menos até 4 de abril, data em que será celebrada a Páscoa.
Presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn entende que a cogestão traz perspectiva positiva em meio à crise. Conforme Bohn, as empresas têm condições de adaptar suas operações de acordo com os protocolos definidos. Entretanto, o dirigente vê com "preocupação" a paralisação aos finais de semana.
— Sempre insistimos na ideia de que, mesmo na bandeira preta, precisaríamos de um mínimo de atividades comerciais. A parada total é muito danosa, cruel para empresas e trabalhadores — diz. — Os protocolos podem ser cumpridos. A luta é contra o fechamento — acrescenta.
Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL Porto Alegre), Irio Piva vai na mesma linha. Segundo ele, lojas já começaram os preparativos para a volta ao trabalho presencial. O dirigente, contudo, lamenta as restrições nos finais de semana.
— A saúde das pessoas é a questão mais importante, mas entendemos que o comércio está totalmente preparado para atender e oferecer segurança. Apoiamos protocolos rígidos — sublinha. — Claro, o final de semana é o principal momento do varejo, e a restrição frustra um pouco. Mas temos de olhar para o copo meio cheio, valorizar as conquistas.
Outra entidade favorável à cogestão é a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul). O presidente da Federasul, Anderson Trautman Cardoso, menciona que setores como o comércio enfrentam "momento extremamente complicado". A paralisação de atividades e a interrupção de ações do governo federal para suporte à economia impactam as empresas, lembra o dirigente.
— Construir alternativas, como a cogestão, é uma medida que tem de ser louvada — pontua Cardoso.
Na indústria, o tom também é de elogios à cogestão. "Com o comércio funcionando, as encomendas voltam, trazendo junto a indústria, que atualmente já nota uma redução nos pedidos em alguns setores", declara o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, em comunicado.
Críticas na gastronomia
Na esfera empresarial, o tom mais crítico à decisão do Piratini, até o momento, é o do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha). Na cogestão, restaurantes e bares poderão funcionar, com atendimento presencial restrito, até as 18h, durante a semana.
"O setor da gastronomia recebeu com tom crítico e preocupação as novas medidas do governo do Estado com restrições "especiais" aos restaurantes e similares, que só podem operar até as 18h durante a semana, além da restrição total aos fins de semana. O Sindha - Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região reforça sobre a situação econômica insustentável na qual as empresas se encontram", diz a entidade, em nota.