Ao vencer o leilão da CEEE-D, nesta quarta-feira (31), a Equatorial Energia reforça o interesse por concessionárias de distribuição de energia elétrica no país. É que o grupo já administra outras quatro companhias do setor em Estados do Norte e do Nordeste — Maranhão, Pará, Piauí e Alagoas.
Na visão de analistas de mercado, a troca de comando deve resultar em ganhos de eficiência na área de atuação da CEEE-D, presente em 72 municípios, incluindo Porto Alegre. Para manter a concessão, a Equatorial Energia terá de realizar investimentos, em uma tentativa de elevar indicadores de qualidade de serviço.
O que pesou na decisão da Equatorial?
Presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales chama atenção para a experiência do grupo privado em arrematar distribuidoras com dificuldades financeiras. A CEEE-D tem dívida estimada em R$ 7 bilhões. Antes da companhia gaúcha, a aquisição mais recente da Equatorial havia sido a Ceal, de Alagoas, em dezembro de 2018.
— Em alguma medida, a Equatorial é uma empresa com histórico de entrada em regiões com concessionárias que estavam em situações difíceis — diz Sales. — Do ponto de vista do consumidor, será um avanço — aposta.
Para analistas, o fato de a CEEE-D ter despertado interesse de apenas uma empresa reflete os desafios envolvidos na concessão. Em entrevista após o leilão, o diretor de regulação e novos negócios da Equatorial, Tinn Amado, destacou a experiência da companhia em administrar concessionárias que registravam restrições financeiras.
— De fato, a Equatorial tem o hábito de pegar concessões que são um pouco mais complexas do que o normal e transformá-las. É uma concessão (CEEE-D) que tem quase 2 milhões de clientes. Do ponto de vista de diversificação de riscos, é bastante interessante. Atuamos no Norte e no Nordeste, e a Região Sul tem uma percepção de risco diferente — afirmou o executivo.
— É um conjunto de fatores que levou a gente a ver com bastante atratividade a concessão no Rio Grande do Sul. Estamos convictos de que vamos replicar o processo exitoso das nossas quatro outras empresas — acrescentou.
A Equatorial tem capital pulverizado — ou seja, sem controlador definido. Entre seus acionistas, estão gestoras como Squadra Investimentos, Opportunity e BlackRock.
Qual é o tamanho do mercado da CEEE-D?
A operação da CEEE-D mais concentrada em um grande centro urbano, a região metropolitana de Porto Alegre, também pode ter pesado para despertar o interesse da compradora, dizem analistas. A situação poderia favorecer a busca por eficiência.
A CEEE-D distribui energia para cerca de 1,6 milhão de unidades consumidoras na Grande Porto Alegre e nas regiões Sul, Campanha e Litoral. A Região Metropolitana responde por 57% do consumo e 59% do faturamento, indicam números divulgados pela concessionária em 2020.
— O fato de ter a Capital na concessão é um atrativo — pontua o analista André Trein, que acompanha o setor elétrico e é sócio da Bateleur, empresa especializada em fusões e aquisições.
Trein também enxerga potencial de avanço nos serviços para os consumidores, já que a nova controladora tem maior capacidade financeira e tende a buscar eficiência.
Nesse contexto, o analista cita o exemplo da Equatorial Energia Pará, antes conhecida como Celpa. A distribuidora da Região Norte passou a ser administrada pela compradora da CEEE-D em novembro de 2012.
Para avaliar a qualidade dos serviços, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) utiliza os seguintes indicadores: Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC) e Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC). O DEC aponta, em média, o número de horas em que o consumidor fica sem fornecimento de energia no ano. O FEC, por sua vez, aponta quantas vezes houve interrupção.
Em 2013, o DEC apurado junto à distribuidora paraense era de 73,29 horas. O limite era de 36,43. O indicador apurado caiu para 20,12 horas em 2020, quando o limite era de 27,58. Já o FEC caiu de 37,93 vezes, em 2013, para 10,80 em 2020. No ano passado, o limite era de 22,20.
A CEEE-D também conseguiu reduzir os indicadores no mesmo período. Entretanto, ambos continuaram acima da marca máxima. Em 2020, o DEC apurado na estatal gaúcha foi de 20 horas, acima do limite de 9,92. Já o FEC ficou em 10,60 vezes, enquanto o limite era de 7,69.
E a tarifa?
Reajustes nas tarifas de energia elétrica são determinados pela Aneel, que regula o setor. Revisões nos preços para os consumidores levam em conta diferentes questões.
Para manter a concessão da CEEE-D, a Equatorial terá de fazer investimentos e elevar a qualidade de indicadores da concessionária. Aportes são considerados pela Aneel para definição de tarifas.
Ou seja, poderia vir daí uma pressão para cima nos valores cobrados do consumidor, sinaliza Trein. Por outro lado, o analista sublinha que os ganhos de eficiência, se confirmados, poderiam gerar efeito contrário, anulando a eventual subida.
— Vejo esses dois fatores. Então, é complicado dizer se a tarifa vai subir ou não — diz.