Em um leilão-relâmpago, a Equatorial arrematou a CEEE-D na manhã desta quarta-feira (31) na B3, a bolsa de valores do Brasil. A expectativa é de que a nova gestão assuma a empresa em maio, porque são necessários dois meses para transferir o controle
Foi um resultado surpreendente, porque as apostas se concentravam na CPFL, que já controla dois terços da atividade de distribuição de energia no Rio Grande do Sul.
Isso significa que a CEEE-D será controlada por uma companhia de capital pulverizado, ou seja, sem controlador definido, que até agora só atuava no Nordeste e no Norte. A Equatorial tem atividades em Maranhão, Pará, Piauí e Alagoas. Além da distribuição, atua também em geração e transmissão. E os acionistas parecem ter aprovado o movimento considerado arriscado da Equatorial: as ações ordinárias da empresa chegaram a subir mais de 5% na abertura. No final da manhã, a alta passa de 6%.
O fato de ser uma empresa de capital pulverizado significa que o foco da Equatorial é em resultado para seus acionistas. Por isso, é possível esperar uma gestão dedicada a drásticos cortes de despesas e em geração de lucro no menor prazo possível. Isso não quer dizer, porém, uma busca alucinada por resultados de curto prazo. Na formação da Equatorial, há uma passagem importante da GP Investimentos, do bilionário Jorge Paulo Lemann, conhecido por excelência em gestão.
Para os consumidores, é possível esperar aumento de tarifa, mas não no curto prazo. A Equatorial já afirmou, na entrevista que se seguiu ao leilão, que fará um aporte focado em reestruturar a dívida da empresa. Mas também terá de investir na melhora da qualidade do serviço, porque é uma exigência para manter a concessão. Uma das regras do reajuste tarifário aplicada pela agência reguladora, a Aneel, é "remunerar o investimento". Mas isso só deverá ocorrer a partir de dezembro de 2022, a menos que haja uma revisão tarifária até lá.
E para quem estranhou o valor, uma lembrança: a CEEE-D tem patrimônio líquido negativo de R$ 4,8 bilhões. O "preço" do leilão, portanto, é meramente simbólico. A Equatorial vai assumir uma dívida de ICMS de R$ 1,6 bilhão e terá de investir, no mínimo, valor equivalente para recuperar os indicadores de qualidade de serviço e de equilíbrio econômico-financeiro.
Os passivos da CEEE-D
ICMS R$ 4,4 bilhões (até abril de 2021)
Empréstimos BID/AFD R$ 1 bilhão
Previdência R$ 1 bilhão
Ex-autárquicos R$ 465 milhões
Quem paga o quê
Governo do RS
ICMS R$ 900 milhões (a prefeituras)
Ex-autárquicos R$ 465 milhões
Equatorial
ICMS R$ 1,7 bilhão (em 15 anos)
BID/AFD R$ 1 bilhão
CEEE
Previdência R$ 1 bilhão