Na última jornada do atípico 2020, o índice Ibovespa, principal termômetro da bolsa de valores de São Paulo (B3), alcançou, pela primeira vez, a marca dos 120 mil pontos durante uma sessão. Contudo, o indicador perdeu fôlego ao longo desta quarta-feira (30). Assim, fechou o pregão com recuo de 0,33% frente ao dia anterior, para 119.017 pontos.
O resultado fica abaixo da máxima histórica no encerramento de uma sessão. Esse recorde foi verificado em 23 de janeiro (119.527 pontos).
Mesmo com a variação diária negativa, a bolsa fechou o ano de pandemia no azul. Em 2020, houve alta de 2,9%. É que, na última sessão de 2019, o Ibovespa estava em 115.645 pontos.
Nesta quarta-feira, o dólar apresentou relativa estabilidade, cotado a R$ 5,189 na venda. Já no recorte anual, houve forte elevação, de 29,3%. Na última sessão de 2019, a moeda americana estava em R$ 4,012.
Na visão do economista-chefe da Geral Asset, Denilson Alencastro, 2020 marcou período "tenso e volátil" para o mercado financeiro. Nas primeiras sessões do ano, a B3 até navegou sem grandes turbulências. Mas, com a chegada do coronavírus, o cenário mudou completamente.
A crise sanitária espalhou preocupação no mercado, e o Ibovespa desabou na fase inicial da covid-19. Em março, o índice chegou a cair para faixa próxima de 60 mil pontos. Enquanto isso, o dólar engatou escalada na comparação com o real. Tensões políticas envolvendo o governo federal, que teve saída de ministros durante a pandemia, também azedaram o humor de investidores.
A melhora na bolsa ganhou corpo em meados do ano. À época, o Ibovespa voltou a se aproximar da barreira simbólica dos 100 mil pontos. A reação até dezembro pode ser atribuída a uma combinação de fatores, diz Alencastro.
Entre eles, estão a retomada da economia brasileira, beneficiada por medidas de estímulo, o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19 e a trégua gerada pelas eleições nos Estados Unidos. A variação do Ibovespa leva em conta ações de empresas que respondem pelo maior volume de negociação na bolsa.
— A melhora tem a ver com os efeitos das políticas fiscais e monetárias, com o conhecimento maior sobre o vírus e a doença. Também houve a reabertura da economia. Além disso, o juro mais baixo estimula a busca por maiores ganhos na renda variável — sintetiza Alencastro.
Cenário para próximo ano
Na largada de 2021, questões como o cronograma de vacinação, ainda incerto no Brasil, e a condução da política econômica pelo governo federal devem pesar no humor dos investidores, aponta o analista. Ao longo deste mandato, a agenda de reformas, que desperta simpatia no mercado financeiro, esbarrou em uma série de dificuldades.
— O principal fator agora é a vacina, é entender como será feita a distribuição no país. Também é preciso avaliar como o governo vai lidar com a condução da política econômica, com as reformas. É isso que vai dar o tom. E não dá para esquecer que 2021 é ano pré-eleitoral — frisa o economista.
Para entender
O que é a bolsa de valores?
É o espaço em que investidores podem comprar e vender ações de empresas. No Brasil, a bolsa que está em operação é a B3 (anteriormente chamada de Bovespa), com sede em São Paulo.
Como investir na bolsa?
É preciso que o interessado se cadastre em uma corretora registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Assim, pode abrir uma conta para iniciar as aplicações.
O que são as ações?
São pequenas partes de uma empresa. Ao abrir seu capital, uma companhia o divide em várias ações, oferecidas na bolsa a possíveis investidores. Quanto mais papéis eles comprarem, maior será a parcela na empresa.
Quais são os tipos de ações?
-Ordinárias: dão direito a voto em assembleias que debatem os rumos das empresas.
-Preferenciais: não concedem direito a voto em assembleias, mas garantem preferência no recebimento de dividendos - parcelas do lucro das companhias.
Há valor mínimo de investimento?
Não há valor mínimo. A quantia varia em cada caso, dependendo, por exemplo, do preço das ações de cada empresa.
O que é o índice Ibovespa?
É o principal índice da bolsa. Sua variação é calculada com base no desempenho das ações de grandes empresas listadas no mercado brasileiro. Quando se diz que a bolsa teve alta de 1% ao final de uma sessão, é porque o valor do Ibovespa, em pontos, também aumentou 1%.
Há riscos nos investimentos?
Sim. Investir na bolsa tem riscos. Ações de empresas podem resultar em maiores rendimentos do que opções de renda fixa, como a poupança ou títulos do Tesouro, mas também há chance de perdas. Por quê? Em um dia, os papéis de uma companhia podem registrar alta expressiva e, na sessão seguinte, cair em igual magnitude. O sobe e desce é conhecido como volatilidade.