Os efeitos gerados pela crise do coronavírus começaram a ficar para trás nos balanços das empresas gaúchas com capital aberto. As 15 maiores companhias do Rio Grande do Sul com ações negociadas na bolsa de valores de São Paulo, a B3, fecharam o terceiro trimestre com receita líquida de R$ 23,61 bilhões, alta de 9% em relação a igual período do ano passado, antes da pandemia. Isso significa ganho de R$ 1,9 bilhão em faturamento.
As demonstrações financeiras divulgadas ao mercado indicam que, de julho a setembro, 12 das 15 empresas gaúchas apresentaram desempenho melhor do que o verificado nos mesmos três meses de 2019. E a maioria também se manteve lucrativa: 11 permaneceram no azul e quatro no vermelho. Somadas, as principais companhias do Estado apuraram lucro de R$ 969,1 milhões, alta de 37% frente a igual época do ano anterior.
O economista Gustavo Bertotti, da Messem Investimentos, lembra que a demanda reprimida após a paralisação das atividades no trimestre anterior e a desvalorização acentuada do real ajudam a explicar a ampliação do faturamento do conjunto de empresas gaúchas. A alta do dólar, que rompeu a barreira dos R$ 5, turbinou receitas e lucros de empresas gaúchas exportadoras, sobretudo na indústria. Por outro lado, o câmbio também acaba pressionando custos de importação de matérias-primas.
— O primeiro trimestre não teve tanto o impacto da crise, o segundo teve uma queda brutal de receita em praticamente todos os setores, e o terceiro veio com a maioria das empresas reportando dados melhores — analisa Bertotti.
Na comparação com o segundo trimestre deste ano, considerado o ápice da crise para os negócios, a recuperação é ainda mais evidente. O faturamento conjunto das 15 marcas aumentou 24%, o equivalente a R$ 4,25 bilhões. Já o lucro líquido avançou 429%, o que representou R$ 785,8 milhões a mais no caixa das companhias.
Os incrementos de receita e lucro verificados no conjunto das 15 empresas gaúchas passam diretamente pelos resultados da Gerdau. A siderúrgica teve receita de R$ 12,22 bilhões de julho a setembro, alta de 24% em relação ao ano anterior. O movimento foi puxado pelo impacto positivo da conversão das receitas em dólar das operações na América do Norte. Já o lucro disparou 175%, alcançando R$ 794,6 milhões.
Outro destaque foi a Randon, que teve o melhor terceiro trimestre de sua história. A companhia de Caxias do Sul faturou R$ 1,51 bilhão, valorização de 11%. E o lucro líquido saltou 48%, para R$ 116 milhões. O desempenho é explicado pela diversificação dos negócios do grupo, o incremento das exportações e a aquisição da fabricante de autopeças Nakata.
– Alguns setores conseguiram seguir mais fortes durante a pandemia, como a construção civil, o que beneficia a Gerdau. E as obras de infraestrutura e o transporte de mercadorias também seguiram em alta, o que foi bom para a Randon – constata Valter Bianchi Filho, sócio-fundador da Fundamenta Investimentos.
Impacto
Por outro lado, também há empresas gaúchas que seguem em busca de recuperação. São os casos de Lojas Renner e Marcopolo, que concluíram o terceiro trimestre com receitas menores e saldo negativo. A varejista segue com o desempenho das lojas físicas afetado pela pandemia e teve receita de R$ 1,79 bilhão, queda de 20%.
A companhia teve prejuízo de R$ 82,9 milhões, ante lucro de R$ 186,7 milhões no ano anterior. Já a fabricante de carrocerias de ônibus ainda tem a demanda por veículos, tanto de transporte urbano como de turismo, impactada pela crise sanitária. A Marcopolo encerrou o trimestre com faturamento de R$ 836,5 milhões, recuo de 23%, e prejuízo de R$ 57,4 milhões.
Cenário de incertezas pela frente
Ainda que os números das empresas gaúchas, de modo geral, tenham melhorado no terceiro trimestre, analistas do mercado financeiro avaliam que uma série de fatores será determinante para a continuidade da retomada nos próximos trimestres. A evolução da pandemia de coronavírus, o fim de políticas de estímulo do governo federal e até a falta de matéria-prima em alguns setores poderão trazer impactos nos balanços a serem divulgados nos próximos meses.
– O número de casos de coronavírus está subindo, ainda que tenhamos alguma visibilidade de vacina pela frente. Pode ser que as pessoas continuem com receio e, com isso, consumam menos. Também não deveremos ter mais o auxílio emergencial, que foi importante para a retomada do consumo no país – afirma Valter Bianchi Filho, sócio-fundador da Fundamenta Investimentos.