Quem ouve Rober Rosso, 39 anos, falar sobre investimentos em ações duvida que esse fosse um terreno absolutamente inexplorado pelo empresário até seis meses atrás. Seu vocabulário parece evocar um segundo idioma, próprio dos lobos de Wall Street – ou da Avenida Paulista: negocia por home broker, evita o swing trade e procura ajuda de especialistas para fazer o valuation das empresas na bolsa.
– Comecei a fazer um curso para aprender essa técnica – avisa Rosso, referindo-se ao valuation, que é o processo de estimar o valor de uma companhia, descobrindo, por exemplo, se suas ações estão caras ou baratas.
Desde que mergulhou no mundo das ações, o empresário ampliou seu preparo. Participa de cursos online, assiste a vídeo-aulas, segue influenciadores digitais e conversa semanalmente com seu agente autônomo na corretora onde aplica. São movimentos saudáveis para quem usa home broker, em que o julgamento do próprio investidor (e não de um gestor de fundo de ações, por exemplo) determina o sucesso na aplicação. E sua régua é alta:
– Minha meta é ganhar o mesmo que ganhava na renda fixa quando a Selic estava em 14% ao ano – mira ele, que prefere papéis que pagam bons dividendos, como os de bancos, de empresas de energia e de mineradoras (a queda da taxa de juros é apontada como razão para o baixo rendimento das aplicações tradicionais, como Caderneta de Poupança e CDBs).
Nem tudo são flores, mesmo que estejamos, nas palavras de Rosso, em um momento black swan (ou “cisne negro”, jargão do mercado para se referir a eventos raros e que interferem nos investimentos, como a atual pandemia de coronavírus): tem vezes que o mercado vira de ponta-cabeça e mesmo as blue chips (ações mais negociadas) estremessem.
– Mas, se você estiver bem informado, bem assessorado, aprende a atravessar essas “panicadas” – defende, referindo-se às turbulências mais intensas na bolsa.
O empresário agora se vê diante de um novo e nobre desafio: convencer a esposa, a biomédica esteta Karen Schmid, 34, a também desbravar a bolsa. Fã da zelosa Caderneta de Poupança, no entanto, ela ainda tem seus receios. Prefere ganhar um pouco a cada mês do que arriscar perder muito em um dia.
– A gente assiste juntos a vídeos, ele me mostra como funcionam os gráficos, como escolher uma empresa. Mas para mim ainda é outro mundo – explica Karen.
Do mesmo jeito que faz com uma ação na qual confia, Rosso não abrirá mão da missão com a esposa. Continuará mostrando que fazer trade (negociar ações) não é tão difícil, e um position de longo prazo costuma ter um final feliz. Enquanto isso, ela se diverte com os jargões.
– No início eu achava apenas engraçado, mas de tanto ouvir acho que já estou começando a aprender – brinca Karen.
O aprendizado de Rober e Karen
Ter uma estratégia de investimentos é essencial. A do empresário que tenta convencer a esposa biomédica a também investir na bolsa é por ações que pagam bons dividendos. De acordo com Fábio Rimoli, agente autônomo da Geral Investimentos, trata-se de uma forma de agrupar papéis de companhias mais sólidas, geralmente mais resistentes à crise. Antes de comprar e vender ações, ressalta Rimoli, é importante fazer como Rosso, adotando critérios que ajudem a direcionar as melhores escolhas.