Até setembro passado, Rafael Becker, 33 anos, não podia ouvir falar em bolsa de valores. Cauteloso com suas economias, mantinha reservas a sete chaves no CDB de um banco, mesmo que o rendimento há alguns anos não fosse lá uma maravilha. Orientado por uma consultora financeira, começou a namorar a ideia de se familiarizar com o mundo das ações. O que, no primeiro momento, deu calafrios.
– Meus amigos brincam que sou mão de vaca. E um bom mão de vaca não pode aceitar que uma parte do dinheiro guardado a muito custo encolha do dia para a noite – explica.
Ainda que desconhecesse os detalhes da bolsa, o engenheiro de segurança do trabalho sabia que o mercado de capitais traz riscos maiores do que opções tradicionais. Ao passo que seu CDB jamais tinha um mês no vermelho, a bolsa poderia ter dias péssimos, alternados com os desejados saltos.
– Como as minhas aplicações vinham rendendo pouco há algum tempo, aceitei, meio a contragosto, colocar 20% em ações – explica.
As primeiras semanas foram tensas. O valor aplicado inicialmente chegava a encolher 3%, 7% em um dia. Uma semana depois, por outro lado, sua carteira dava a volta por cima: chegava a crescer 8% em um único pregão.
– É uma lógica totalmente diferente da renda fixa, que só sobe, mesmo que um pouquinho por mês. É preciso ter muito sangue frio – ensina.
A paciência, um mandamento importante para quem investe em ações, foi um aprendizado graças a um susto que quase custou caro. No início de novembro, com as eleições americanas, a bolsa brasileira intensificou os dias de montanha-russa, reduzindo a zero os ganhos obtidos ao longo de meses. Becker viu duas de suas ações, de uma siderúrgica e uma varejista, caírem 1,5% e 5% em um único dia.
Na hora ligou para sua consultora de investimentos, implorando que vendesse os papéis antes que a coisa piorasse.
– Ela insistiu que eu esperasse porque a queda era passageira. Mas eu queria evitar de perder ainda mais. No fim, fui convencido a aguentar o tranco – lembra.
A cautela foi premiada. Poucas semanas depois do dia de pânico, as mesmas ações voltaram a subir, zerando as perdas em um dia. No dia seguinte, com a notícia de que o candidato democrata Joe Biden – favorito dos investidores – estava à frente na apuração, saltaram ainda mais. Como Becker reteve as ações, o dinheiro aplicado cresceu.
– Lição aprendida. Quando as ações começam a cair muito, agora fecho o aplicativo, respiro fundo e deixo o tempo passar – diz.
O aprendizado de Rafael Becker
Ele, que é engenheiro de segurança do trabalho, teve paciência e não desistiu após alguns dias ruins – o que é uma qualidade importante de quem aplica em ações, ressalta a consultora financeira Camila Bavaresco. Como os investimentos são orientados para longo prazo, é preciso evitar a tentação de vender os papéis diante de tombos pontuais, sob pena de assumir o prejuízo, sem chance de recuperação.