Desde que começou a aplicar em Fundos de Ações, em agosto passado, a perspectiva de Henrique Araújo mudou – e não apenas no que se refere ao dinheiro. A lógica do mercado de capitais, no entendimento do professor de português de 27 anos, parece se repetir na forma como planeja seu trabalho rotineiro e até na maneira como ele tem consumido informação.
No seu canal de YouTube, no qual o “Corretor Sincerão”, como se define, dá dicas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a ordem e a periodicidade dos vídeos postados passou a obdecer alguns movimentos que Araújo observa também na bolsa de valores.
– Os vídeos postados talvez não tragam um retorno imediato, mas com o passar do tempo vão “se valorizando”, ou seja, ganhando mais visualizações e compartilhamentos – discorre. – No longo prazo, eles geram uma renda passiva (que cresce sem necessidade de novos esforços), do mesmo modo que as boas ações – complementa.
O professor também observou que sua conta no Instagram, que reúne mais de 30 mil seguidores, cresce da mesma forma que o juro composto: no início, a variação patina, mas, depois do primeiro milhar, as adesões ganham ritmo e a coisa parece andar com as próprias pernas. Mesmo quando assiste ao telejornal, o radar de Henrique está dividido entre a TV e o monitoramento das suas aplicações financeiras.
– Quando há alguma notícia sobre crescimento da economia, geração de emprego, inflação ou conflito comercial entre países, já sei que a bolsa vai responder o quanto antes, para o bem ou para o mal – conta.
É um jogo de sobe e desce bem diferente da previsibilidade da renda fixa, na qual os efeitos da macroeconomia custam mais a serem sentidos. Depois de investir na Caderneta de Poupança a vida toda, em 2019 Araújo começou a diversificar suas aplicações para CDBs e títulos públicos. Como é um trabalhador autônomo, com meses de bonança e outros de aperto, a segurança sempre foi um fator importante para ele.
– Mas chegou um momento em que a renda fixa passou a pagar muito pouco, e na prática comecei a perder dinheiro para a inflação – recorda Araújo.
Por orientação de um especialista em investimentos, neste ano ele colocou parte de suas economias na bolsa. E não se arrependeu.
– Eu já tinha vontade de investir, mas era receoso. Neste ano, com a queda no valor das ações em razão da pandemia, resolvi entrar no momento de baixa e buscar um rendimento maior – explica.
Desde agosto até a última quarta-feira (9/12), o índice Ibovespa, que dá a média da variação das ações no pregão brasileiro, havia subido 9,6%. O mercado de capitais pode ser um caminho mais rápido para Araújo alcançar um de seus sonhos: comprar a casa própria. Com 40% de seu patrimônio nos fundos de renda variável e também em papéis de empresas americanas, torce para que suas economias deem um salto para dar uma boa entrada no apartamento.
O aprendizado de Henrique
Estar bem informado pode fazer toda a diferença entre ser um investidor bem ou malsucedido. O caso do professor de português, dono do canal de YouTube Corretor Sincerão, é bastante ilustrativo dessa máxima. De acordo com o analista de investimentos Adriano Severo, é importante estar conectado ao noticiário da economia e das empresas para avaliar se é hora de aumentar a participação em uma ação ou substituí-la na carteira. Além disso, estar aberto a outras opções da renda variável, como Fundos Imobiliários (FIIs), Títulos Cambiais ou ações de empresas estrangeiras, pode revelar oportunidades atraentes.