Castigado pela combinação entre estiagem e pandemia, o Rio Grande do Sul perdeu 88,6 mil empregos formais entre janeiro e agosto de 2020. O número representa queda de 3,5% no estoque total de vagas de trabalho com carteira assinada, indica estudo do Departamento de Economia e Estatística (DEE) divulgado nesta quinta-feira (15). O órgão está vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão.
As 88,6 mil vagas perdidas decorrem da diferença entre demissões e contratações no período. Ou seja, o resultado negativo confirma mais cortes do que admissões. A pesquisa compilou dados do Novo Caged, o cadastro de empregos formais do Ministério da Economia.
A quantidade de vagas fechadas durante o ano supera, por exemplo, a população de um município como Lajeado, no Vale do Taquari (85 mil habitantes). No início de janeiro, o Rio Grande do Sul tinha 2,512 milhões de vagas formais em estoque. Com a perda dos 88,6 mil postos, o número baixou para 2,424 milhões em agosto.
No mesmo intervalo, o Brasil teve redução de 849,4 mil empregos. Isso significa que o país fechou 2,2% do estoque de vagas — recuo menos intenso do que o gaúcho.
Em termos percentuais, o Rio Grande do Sul amargou a quinta maior perda entre os Estados. As piores reduções ocorreram em Alagoas (6,8%), Rio de Janeiro (5,8%), Sergipe (5,2%) e Pernambuco (4%).
Entre os setores da economia gaúcha, a maior perda relativa foi a do comércio (5,5%), seguido pelo ramo de serviços (3,7%). Ambos os segmentos sofreram com a paralisação de empresas durante a crise do coronavírus. A indústria de transformação (2,3%) e a construção (1,5%) apresentaram reduções mais brandas.
Até agosto, a agropecuária foi a única atividade a registrar variação positiva, de 0,1%. Entretanto, o emprego formal é menos significativo do que a ocupação não formalizada no campo, pondera o DEE.
O pesquisador Guilherme Xavier Sobrinho, um dos responsáveis pelo estudo, ressalta que o maior impacto da crise no mercado de trabalho ocorreu em abril. O Rio Grande do Sul fechou, apenas nesse mês, quase 79,3 mil empregos.
O Estado voltou a ter desempenho positivo em julho e agosto, mas ainda insuficiente para recompor todas as perdas. Na soma dos dois meses, os gaúchos abriram 9,1 mil vagas.
— A retração no mercado de trabalho combinou dois fatores de grave impacto: a pandemia e a estiagem — relata o analista.
De janeiro a agosto, as mulheres representaram 54,8% dos vínculos extintos no Rio Grande do Sul. Em termos de escolaridade, os mais afetados apresentavam Ensino Médio completo (43,5%). No quesito idade, os empregados formais de 50 a 64 anos responderam por 36,2% dos cortes no período.
— O fundo do poço parece ter sido abril. Estamos observando uma recuperação, mas ainda em nível inferior. A reação é muito heterogênea entre os setores da economia — diz o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank.
Nove regiões no vermelho
O estudo do DEE foi batizado como Boletim de Trabalho. Conforme a pesquisa, das nove regiões funcionais do Estado (RFs), oito tiveram perda de empregos entre janeiro e agosto. A exceção foi a área que engloba os vales do Rio Pardo e do Taquari, beneficiada pela sazonalidade da cadeia do fumo.
A região que inclui o Litoral Norte apresentou a redução mais expressiva no trabalho com carteira (10,5%). A zona de Porto Alegre e Região Metropolitana (5%) teve a segunda maior baixa. Essa área responde por quase a metade dos empregos formais do Estado.
Impacto no setor informal
O boletim ainda compara características de trabalhadores com registro e da parcela de informais no Rio Grande do Sul. Nesse recorte, a base de dados usada é a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No segundo trimestre de 2020, o número de profissionais por conta própria com registro formal teve aumento de 21,8% em relação a igual período de 2019. Ou seja, houve acréscimo de 97 mil pessoas nessa faixa, que pulou de 444 mil para 541 mil.
No sentido contrário, a parcela de informais por conta própria diminuiu 16,1%. Passou de 990 mil para 830 mil — menos 160 mil ocupados.
"Isso reforça que, no contexto da recessão provocada pela pandemia, os trabalhadores informais têm sido atingidos de uma forma negativa e muito intensa", comenta, em nota, o pesquisador do DEE Raul Bastos.