A indústria gaúcha depara com uma série de dificuldades no comércio exterior. Prejudicado pela pandemia, o setor completou 12 meses de quedas consecutivas nas exportações, na comparação com igual período do ano anterior. Setembro, com a marca de US$ 827,8 milhões, baixa de 25,4%, representou o 12º recuo.
Os números foram divulgados nesta terça-feira (13) pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). Conforme a entidade, houve baixas em 17 dos 23 setores pesquisados.
Em setembro, a queda nos embarques para a China levou o resultado geral para o vermelho. No período, as vendas das fábricas para o país asiático desabaram 63,4%. Segundo a Fiergs, os chineses não realizaram importações de tabaco e reduziram em 36% as compras de produtos químicos.
Os embarques para Argentina e Estados Unidos, por outro lado, voltaram a subir no mês passado. As altas foram de 5,4% e 8,2%, respectivamente.
"Nosso principal comprador (China) reduziu em mais de 60% as importações de produtos gaúchos, o que provocou forte impacto no resultado do mês, mesmo que Estados Unidos e Argentina tenham começado a mostrar alguma recuperação após meses de quedas", afirma, em nota, o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.
Entre os setores, o de tabaco liderou as perdas, com tombo de 61,1% no total de vendas. Veículos automotores e químicos vieram na sequência, registrando quedas de 40,8% e 28%. No sentido contrário, o segmento de produtos de metal se destacou pelo avanço de 38,5%.
Com isso, as exportações industriais do Estado atingiram a marca de US$ 7,5 bilhões no acumulado de 2020. O resultado significa retração de 21,2% frente ao intervalo de janeiro a setembro de 2019.
Professor da Unisinos, Marcos Lélis atribui a sucessão de quedas a um conjunto de fatores. Antes da pandemia, dificuldades em parceiros comerciais da América do Sul já impactavam os negócios, lembra. A Argentina, principal mercado na região, enfrenta crise nos últimos anos. A chegada do coronavírus serviu para agravar a situação.
Na visão de Lélis, a redução nos embarques para a China, em setembro, pode estar relacionada à formação de estoques na pandemia.
– No ano passado, já havia problemas em parceiros da América do Sul, incluindo a Argentina. Agora, a China está segurando mais as compras – frisa.
Recuo nas importações
Em meio à pandemia, as compras da indústria também ficaram menores. Em setembro, as importações chegaram a US$ 696,2 milhões, recuo de 25,8% em relação ao ano passado, sinaliza a Fiergs. No acumulado de 2020, as compras atingiram US$ 5,3 bilhões, queda de 28,3% ante o mesmo período de 2019.
Nos últimos nove meses, com exceção de combustíveis e lubrificantes (2,1%), as demais grandes categorias econômicas apresentaram reduções significativas. A maior foi verificada em bens intermediários, de 35,1%.
Professor da Escola de Negócios da PUCRS, Gustavo Inácio de Moraes avalia que as recentes variações do câmbio reduzem a previsibilidade na hora de fechar negócios. Essa incerteza sobre o comportamento do dólar impacta tanto as vendas quanto as compras no mercado internacional, diz o economista.
– Quando há indefinições sobre o câmbio, exportadores e importadores tendem a esperar mais até fechar novos contratos. Há uma incerteza – pontua.
Retomada cheia de obstáculos
O ensaio de retomada da economia global traz algum alívio para a indústria gaúcha. Mesmo assim, o horizonte para as fábricas no comércio exterior segue repleto de dificuldades, ponderam analistas. O temor de novas ondas de contaminação por coronavírus é um dos focos de atenção. Regiões como a Europa voltaram a apresentar avanço nos casos de covid-19.
– A reorganização do comércio exterior deve levar mais seis meses pelo menos. As economias reabrem, mas existe um espaço até que retomem o nível de atividade – observa o economista Marcos Lélis, professor da Unisinos. – Países da América do Sul, como a Argentina, começam só agora a reabertura – acrescenta.
O economista Gustavo Inácio de Moraes também vê obstáculos para as exportações das fábricas, mesmo com a tentativa de reação dos negócios de diversos países.
– Temos um cenário ainda complicado para a indústria. Estamos vivendo mudanças no perfil do setor, alterações na produção. Já no agronegócio, por exemplo, é esperada uma melhora significativa em 2021, depois da seca vista em 2020 – menciona o professor da Escola de Negócios da PUCRS.
O desempenho
Valor total dos embarques e variação frente a igual período do ano anterior
2019
Outubro
US$ 995 milhões
-12,6%
Novembro
US$ 923 milhões
-2,3%
Dezembro
US$ 968 milhões
-16,9%
2020
Janeiro
US$ 754,6 milhões
-39,7%
Fevereiro
US$ 822 milhões
-15,8%
Março
US$ 837 milhões
-18%
Abril
US$ 760,9 milhões
-14,7%
Maio
US$ 775,7 milhões
-26,7%
Junho
US$ 837,1 milhões
-12,3%
Julho
US$ 956,4 milhões
-17,7%
Agosto
US$ 954,2 milhões
-14,6%
Setembro
US$ 827,8 milhões
-25,4%