Em meio à preocupação trazida pelo coronavírus, fábricas do Rio Grande do Sul registraram sinal positivo na largada do segundo semestre. Em julho, a produção industrial gaúcha subiu 7% em relação a junho. O resultado representa a terceira alta consecutiva nessa base de comparação. Traz alento, mas não afasta todas as incertezas que rondam o setor.
Isso ocorre porque o indicador ainda amarga uma série de perdas geradas pela pandemia. Prova é a queda de 7,5% na produção frente a julho de 2019. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No acumulado de 2020, o tombo na produção industrial chegou a 14,5%. Em 12 meses, a queda foi de 9,7%.
– Há um processo de recuperação gradual e, até certo ponto, dentro do esperado. A indústria sentiu queda intensa com a pandemia e começa a reagir – ressalta André Nunes de Nunes, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs).
No país, 12 dos 15 locais pesquisados pelo IBGE tiveram desempenho positivo em julho, na comparação com junho. Os maiores avanços foram no Ceará (34,5%) e no Espírito Santo (28,3%). Na contramão, o Mato Grosso registrou a baixa mais intensa, de 4,2%. Paraná e Goiás também ficaram no vermelho, com recuos de 0,3%.
"Este panorama, ao mostrar grande difusão de resultados positivos, traz uma boa sinalização para o setor industrial, embora não esteja claro o perfil de crescimento que será posto em marcha após a compensação das perdas imediatas da covid-19", avalia, em nota, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
"Pode levar algum tempo para certos efeitos serem mitigados, como o aumento do endividamento do setor público e do setor privado e os altos níveis de desemprego", acrescenta.
Conforme o IBGE, a média nacional indicou alta de 8% na produção, em julho, frente ao mês anterior. Ou seja, o desempenho do país foi superior ao resultado gaúcho no período.
– O Estado pode ter ficado abaixo da média nacional porque as medidas de distanciamento duraram mais aqui do que em outras regiões – sinaliza Nunes.
Cenário
Para os próximos meses, uma combinação de fatores positivos e negativos tende a pesar sobre a indústria gaúcha. Por um lado, a perspectiva de reabertura gradual da economia pode estimular a retomada do setor. O dólar em nível elevado, entretanto, encarece a compra de insumos, o que deve pressionar as fábricas pelo menos no curto prazo.
– Durante a pandemia, a indústria buscou vender seus estoques. Agora, precisa recomprar matérias-primas. Está sentindo um baque com o aumento nos preços de insumos dolarizados. São produtos químicos, plásticos, metais. Em períodos de normalidade, o dólar mais alto ajudaria as exportações, mas, com a crise, houve queda na demanda global – aponta Nunes.
Bebidas em alta, calçados em baixa
O levantamento do IBGE reúne dados estaduais, por setores, na comparação de julho com o mesmo período de 2019. Nesse tipo de recorte, dos 14 ramos pesquisados, seis apresentaram desempenho positivo no Rio Grande do Sul. Oito ficaram no vermelho.
A atividade com melhor resultado foi fabricação de bebidas. Houve salto de 19,4% na produção. Em seguida, aparecem borracha e material plástico (13,5%) e produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (12,8%).
Na outra ponta, a maior queda no Estado foi registrada por couros, artigos para viagem e calçados. O tombo chegou a 52,7%. Nos últimos meses, o setor coureiro-calçadista sofreu com a paralisação de atividades do comércio e as dificuldades no cenário internacional, que freiam exportações e importações.
A fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias também engatou a marcha a ré. Teve baixa de 20,4%, a segunda maior entre as atividades no Rio Grande do Sul.
A crise e seus impactos
- O primeiro caso de coronavírus foi registrado em março no Rio Grande do Sul. De lá para cá, a covid-19 provocou efeitos indigestos para indústrias.
- Dentro do Estado, a pandemia causou o fechamento de lojas, o que diminuiu a procura por itens industrializados. Segmentos como o de calçados foram atingidos em cheio.
- No Exterior, também houve prejuízos. De janeiro a julho, as exportações da indústria gaúcha totalizaram US$ 5,7 bilhões. O resultado sinaliza queda de 21,5% em relação a igual período do ano passado, conforme a Fiergs.
- De janeiro a julho, as fábricas perderam 18 mil empregos com carteira assinada no Estado. O saldo decorre da diferença entre 158,3 mil demissões e 140,3 mil contratações. Representa quase 19% de todos os postos fechados no período (95 mil). Os dados são do Ministério da Economia.
- Agora, o setor ensaia reação. Em julho, a produção industrial subiu 7% frente a junho. Foi a terceira alta consecutiva, mas ainda não recupera todas as perdas dos últimos meses.
- Nesta semana, os sinais de alívio foram reforçados com a divulgação de indicador de atividade da Fiergs. Em julho, o Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS) cresceu 3,2% na comparação com junho. Foi a terceira elevação em sequência.