O trabalho informal foi mais prejudicado pela etapa inicial da crise do coronavírus no Rio Grande do Sul. No segundo trimestre, dos 436 mil profissionais que perderam a ocupação no setor privado, 264 mil atuavam sem carteira assinada ou CNPJ. Ou seja, o grupo sem registro formal respondeu por 60,6% das vagas destruídas entre abril e junho, na comparação com o período de janeiro a março.
Os dados integram a Pnad Contínua Trimestral, a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com recorte estadual sobre o mercado de trabalho. Conforme o levantamento, além dos informais, outras 172 mil pessoas com carteira assinada ou CNPJ perderam a ocupação no segundo trimestre. Essa parcela, com registro formal, equivale a 39,4% dos postos fechados no intervalo pelo setor privado.
— Os informais estão em situação mais frágil. Sofrem antes porque têm menor proteção — pontua Walter Rodrigues, coordenador da pesquisa do IBGE no Estado.
No primeiro trimestre, a parcela sem registro era de 1,84 milhão. Com a baixa de 264 mil, o número caiu para 1,58 milhão entre abril e junho. Enquanto isso, a parcela formal, mais volumosa, recuou de 3,04 milhões para 2,87 milhões.
— Os dados mostram que é importante ter um mercado mais formalizado, por mais que exista o contraponto de que muitas amarras tornam contratações e investimentos mais custosos para empresas. Empregos com carteira assinada resistem mais a perdas na economia — observa Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS.
Dentro dos informais, o grupo com a maior redução nos ocupados foi o de empregados sem carteira assinada. No segundo trimestre, essa parcela perdeu 134 mil integrantes. Passou de 508 mil para 374 mil no Estado. A categoria com o segundo maior corte foi a de profissionais que atuam por conta própria sem CNPJ. Houve redução de 88 mil vagas.
A parcela, agora estimada em 830 mil pessoas, contempla trabalhadores que prestam serviços como consertos em residências ou vendem produtos nas ruas.
Os dados mostram que é importante ter um mercado mais formalizado, por mais que exista o contraponto de que muitas amarras tornam contratações e investimentos mais custosos para empresas.
ELY JOSÉ DE MATTOS
Economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Embora mais afetados no início da crise, os informais tendem a voltar ao trabalho de maneira mais rápida, dizem analistas. Isso deve ocorrer porque boa parte depende da renda diária para seu sustento, além de não estar vinculada a decisões tomadas por empresas.
— Quando tivermos uma reabertura maior na economia, a tendência é de que os informais respondam de maneira mais rápida. Por exemplo, um empregador, para abrir uma empresa com CNPJ, vai levar mais tempo. Tem toda uma tramitação — ilustra Rodrigues.
No Brasil, 6,03 milhões de trabalhadores sem registro perderam a ocupação no segundo trimestre. O número corresponde a 63,5% de todas as vagas fechadas no setor privado (9,5 milhões). Durante a pandemia, o auxílio emergencial de R$ 600 serviu para mitigar os prejuízos sentidos pelos trabalhadores sem carteira assinada ou CNPJ. Mas, diante das dificuldades nas contas públicas, o governo reduzirá o valor para R$ 300 nos próximos meses.
Dados referentes a julho apontam que pelo menos uma pessoa recebia o auxílio em 29,6% dos domicílios gaúchos. Só Santa Catarina (24,5%) tinha índice menor do que o Rio Grande do Sul. Esses dados integram outra pesquisa do IBGE, a Pnad Covid-19, que dimensiona os reflexos do coronavírus na economia e na saúde.
— Em períodos de crise, o trabalho informal tende a ser afetado antes. Enquanto isso, uma parte dos empregos formais vem sendo protegida com a permissão para diminuição de carga horária e salários. Assim, parte das empresas opta por não demitir agora — explica o economista Marcos Lélis, professor da Unisinos.
Recuperação repleta de incertezas
A retomada no mercado de trabalho formal dependerá do nível de reação da economia como um todo. Em períodos de crise, o emprego com carteira assinada costuma ser uma das últimas variáveis a se recuperar de maneira plena. Diante desse cenário, economistas avaliam que o mercado informal tende a absorver, inicialmente, uma parcela dos profissionais que perderam colocações com registro nos últimos meses.
— Muitas vagas perdidas não devem ser recuperadas de forma tão rápida. Então, a informalidade vai ser um caminho para parte das pessoas — aponta o economista Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUCRS.
A maior parte dos trabalhadores que ficaram sem ocupação durante a pandemia ainda não aparece no cálculo de desemprego do IBGE. Isso ocorre porque uma pessoa só é considerada desempregada quando perde sua vaga profissional, com ou sem carteira assinada, e segue em busca de novas oportunidades. Ou seja, enquanto não procurar novo emprego, não está desocupada – e, sim, fora da força de trabalho. Os critérios usados pelo instituto seguem metodologia internacional de pesquisa.
No segundo trimestre, a população desempregada no Estado foi estimada em 535 mil. É um acréscimo de 31 mil pessoas frente ao início do ano (504 mil). Com o resultado, a taxa de desemprego subiu 1,1 ponto percentual, para 9,4%.
Enquanto isso, o contingente fora da força de trabalho chegou a 4 milhões. Representa elevação de 520 mil integrantes ante o período de janeiro a março, que somou 3,49 milhões.
Com muita gente afastada do mercado, a tendência é de elevação na taxa de desemprego nos próximos meses, destaca o professor Marcos Lélis, da Unisinos. O economista frisa que a melhora no quadro dependerá de políticas do governo federal para incentivar os negócios no pós-pandemia, assunto que ainda carrega incertezas.