Estimativas de empresários apontam que, quando a rotina retomar a normalidade e os decretos liberarem o funcionamento, nem todas as academias de ginástica estarão abertas, aguardando o retorno de alunos, no Rio Grande do Sul. O Comitê de Crise da Educação Física, movimento que reúne seis entidades do setor, calcula que ao menos 20% das unidades já sucumbiram à pandemia, encerrando suas atividades nos últimos quatro meses.
Em números absolutos, o índice representa mais de 700 centros de treinamento. De acordo com o Conselho Regional de Educação Física (Cref), havia, antes do coronavírus, 3,8 mil estabelecimentos abertos no Estado. O comitê ainda calcula que outros 700 deverão fechar as portas até o final do ano, devido ao acúmulo de despesas e a ausência de receitas.
Entre as unidades fechadas, estão academias tradicionais de Porto Alegre, como a Alternativa, em funcionamento há 17 anos na Rua da República, no bairro Cidade Baixa. O antigo proprietário, Ricardo Paranhos, entregou o prédio de 750 metros quadrados à imobiliária em 25 de abril, demitindo cerca de 10 funcionários e colocando equipamentos à venda.
Paranhos simboliza a crise instalada em dezenas de outros empreendimentos da área. Impossibilitado de trabalhar pelos decretos que buscam controlar o contágio do vírus, calculou ser inviável a manutenção do pagamento do aluguel mensal, de R$ 15 mil, e do salário de colaboradores sem a entrada das mensalidades de seus 400 alunos. Agora, o edifício está disponível para locação.
— Quem sobreviver a essa momento sairá mais forte, porque, certamente, muitos terão abandonado o mercado — diz o proprietário.
Embora frustrado, Paranhos afirma ter tomado a decisão acertada para ao menos conseguir manter a outra unidade da rede, no bairro Santana, em atividade. O conhecido competidor de levantamento de peso na cidade, Roberto da Silveira, chamado de Miudinho, seguiu caminho semelhante. Há um mês, descontinuou uma das quatro academias que levam seu nome, na Avenida Doutor Flores, no Centro Histórico.
Miudinho inaugurou sua primeira unidade na Capital há 30 anos, dentro do Gigantinho, e passou por outras crises econômicas. Mas, para ele, nenhuma nessas dimensões. O treinador buscou diversificar seu negócio, alugando equipamentos para alunos e professores interessados em aulas em casa. A estratégia, contudo, mostrou-se insuficiente.
— Meu filho me disse uma frase que me marcou e estou me segurando nela. "Todo fim tem um recomeço". Tenho certeza que vamos sair dessa. Só não sei quando — afirma Miudinho.
Após serem fechadas, na segunda quinzena de março, seguidas de um breve período de reabertura, em maio, as academias estão impedidas de funcionarem desde 5 de julho em Porto Alegre. Já nos municípios classificados pela bandeira vermelha que estão acompanhando as normas estaduais, podem atuar, desde que com aulas individuais e mantendo o distanciamento de ao menos 16 metros quadrados por pessoa.
Enquanto isso, professores se adaptam aos atendimentos online para assegurar alguma renda no final do mês. O treinador Pedro Henrique Nascimento, por exemplo, tem conduzido ao menos duas aulas virtuais por dia desde abril, quando decidiu, ao lado de seus dois sócios, pelo fechamento do Studio Flex, no bairro Bela Vista.
O encerramento da empresa, dedicada a ginástica funcional e pilates, ocorreu depois de tentativas frustradas de renegociar o aluguel da casa, de R$ 9 mil. O estúdio tinha cinco anos e 80 alunos.
— Me senti frustrado de não conseguir manter aberto um espaço que era meu, e que sempre foi um sonho — lamenta Nascimento.
Há relatos, entre os empresários, de que algumas unidades estão abertas na Capital, alheias ao decreto municipal. Preocupado com o rombo no setor, o Comitê de Crise busca promover os exercícios físicos a atividade essencial no Estado — um projeto de lei tramita, desde o final de junho, na Assembleia Legislativa.
— Todos os dias recebemos relatos de academias que estão fechando as portas. É um cenário preocupante, porque sabemos que, quando reabrirem, o retorno do cliente ainda será abaixo do usual — aponta Alessandro Gamboa, vice-presidente do Cref que está à frente do comitê.
Em meio à crise, ainda nasceu um movimento, chamado de Associação das Academias Gaúchas Unidas, que, em junho, capitaneou um protesto em frente ao Palácio Piratini. O diretor da entidade, Samuel Dummer, proprietário da Práxis Academia, defende o funcionamento das empresas para o controle de outras doenças que, associadas à covid-19, podem ser fatais, como a obesidade e a hipertensão:
— Ninguém quer menosprezar o coronavírus, mas temos de cuidar para que a dose do remédio não mate mais do que a própria doença.