Com opiniões divididas sobre a necessidade de restringir o comércio para inibir a propagação do coronavírus na Capital, porto-alegrenses aproveitaram o sábado de shoppings abertos para passear e fazer compras. Na sexta-feira (12), o prefeito Nelson Marchezan Junior anunciou que voltará a restringir o funcionamento dos centros comerciais a parti de segunda-feira (15) – sem especificar as mudanças, a serem detalhadas em decreto que sairá no Diário Oficial.
O decreto ainda não foi publicado, o que pode ocorrer entre este sábado e domingo. A tendência é de que voltem a valer as regras que vigoraram até 20 de maio, com o funcionamento apenas do comércio essencial nos shoppings (bancos, farmácias e supermercados, por exemplo). As alterações estão baseadas na velocidade do crescimento da ocupação de leitos de UTI, que passou de 45 no início do mês para 69 internados na última quinta-feira (11) - alta de 53%.
Na tarde deste sábado, novo balanço do distanciamento controlado divulgado pelo Palácio Piratini mantém Porto Alegre na bandeira laranja.
— Sinceramente, acho uma droga que vá fechar tudo de novo — reclama a bacharel em Direito Fernanda Araújo, 34 anos — Nos shoppings há todo cuidado com medição de temperatura e uso de máscara. Vai tirar uma opção da população sem necessidade.
Fernanda esteve no Shopping Praia de Belas na tarde deste sábado, onde passou pela lotérica, comprou alimentos e roupas. Ela pretendia fazer estas compras na segunda-feira, mas teve de antecipar em razão das novas regras. Cética sobre a eficiência do rigor do distanciamento social, acha que o desemprego causado pelo fechamento será muito ruim para a cidade.
É uma opinião distinta à do servidor público Rafael Vargas, 42 anos. Ele avalia que, mesmo nos shoppings, as pessoas não estão se cuidando, apesar de todas recomendações das administrações destes locais.
— Tem muito idoso com máscara no pescoço, pessoal andando em grupo. Infelizmente o povo não se deu conta da gravidade da pandemia, então o jeito é fechar mesmo — avalia.
Rafael foi a um shopping pela primeira primeira vez desde a chegada do coronavírus em Porto Alegre. Precisou trocar um voucher em uma loja de artigos esportivos. Tão logo pegou o produto, deu meia volta.
— Se o voucher não tivesse próximo de expirar, nem teria vindo — frisa.
O movimento foi intenso nos shoppings Iguatemi e Bourbon Country, na zona Norte da cidade. Dezenas de consumidores faziam filas para entrar nos estabelecimentos, onde a temperatura de cada um era medida nas portarias. Muitos carregavam sacolas de compras feitas em um estabelecimento para completar a lista de desejos no outro.
— Como vai fechar, estou aproveitando o final de semana para comprar roupas de ginástica — explica a agente de segurança Patrícia Bandeira, 47 anos.
Para ela, o fechamento do comércio é um golpe duplo: inviabilizará sua academia de ginástica e suspenderá os centros de compras, dois dos lugares onde gosta de passar o tempo.
— Desde que reabriram, já fui em todos os shoppings de Porto Alegre. Não vejo problema, já que trabalho fora de casa e, por isso, tenho mantido a mesma rotina de antes do coronavírus — argumenta.
Postura bem diferente à de Claudio Valérius, corretor de seguros de 64 anos. Desde o início da pandemia, ele se refugiou em sua casa em Imbé, no Litoral Norte, de onde trabalha por home office. Veio a Porto Alegre para resolver assuntos pessoais e fazer compras em hipermercado, onde há mais oferta do no Litoral. Passear no shopping está fora dos seus planos.
— Eu achei que aqui estaria seguro, mas estou vendo que o coronavírus está avançando muito mais rápido em Porto Alegre. Vou voltar hoje mesmo pra Imbé e só sair de lá quando a coisa melhorar — garante.
As entidades comerciais da cidade criticaram a decisão da prefeitura de voltar a restringir o comércio. Neste sábado, a Associação Gaúcha de Desenvolvimento do Varejo (AGV) emitiu uma nota afirmando que é "lamentável o fechamento novamente do varejo quando os protocolos de higiene e distanciamento estavam sendo seguidos pelas lojas". A entidade acrescenta que "A situação de fechamento agora é pior do que antes pois o prazo de uso da MP 944, que ajudou pagando o salário dos funcionários, já se esgotou para a maioria das empresas. Agora a empresa vai ter que pagar os dias parados dos funcionários do próprio caixa, que já não tem mais".