O comércio de Porto Alegre reagiu com surpresa e preocupação ao anúncio feito pelo prefeito Nelson Marchezan Junior na noite desta sexta-feira (12) de que, a partir de segunda (15), as restrições voltarão a se acentuar na Capital. As medidas atingem shoppings, comércios com faturamento acima de R$ 360 mil por ano, academias e restaurantes. A interrupção da flexibilização se deve ao aumento de infecções por coronavírus e de surtos na Capital e à maior ocupação dos leitos de UTIs.
O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Irio Piva, afirma que muitos lojistas de shoppings e grandes estabelecimentos haviam reforçado os estoques e interrompido a suspensão de contratos de funcionários após as flexibilizações iniciadas em 20 de maio. A prefeitura havia permitido que empresas com faturamento acima de R$ 360 mil por ano e também lojas não-essenciais de shopping centers voltassem a operar. Estes negócios deverão ser fechados a partir de segunda-feira, conforme as novas regras da prefeitura.
— Este fechamento agora é pior do que o do início de pandemia. As empresas se prepararam para reabrir e tentar sobreviver em um contexto já de baixas vendas, cumpriram todos os protocolos da prefeitura e agora terão de interromper novamente. A situação será inviável para muitos comerciantes — afirma Piva.
A avaliação de Paulo Kruse, presidente do Sindicato dos Dirigentes Lojistas da Capital (Sindilojas-POA) é que o comércio acaba pagando, sozinho, o preço pelo aumento dos casos de coronavírus em Porto Alegre, enquanto outros fatores de transmissão não são enfrentados com o mesmo rigor pela prefeitura.
— Enquanto as lojas fecham, os ônibus continuam sendo autorizados a circularem com pessoas em pé e as estruturas da saúde vão lotando com pacientes de outras cidades. Não há aglomeração nos shoppings e nas lojas, pelo contrário, as vendas estavam sendo apenas suficientes para, quando muito, não dar prejuízo — afirma.
O dirigente relata que havia 16 mil estabelecimentos comerciais na cidade no início do ano, com 90 mil empregos gerados. Após o início da pandemia, ocorreram cerca de 5 mil demissões e aproximadamente 800 lojas fecharam.
— A quebradeira será maior agora — projeta Kruse.
Para o proprietário da rede Moinhos Fitness, Henrique Petersen, voltar às regras anteriores inviabiliza o funcionamento da maioria das academias. A rede possui nove unidades em Porto Alegre. Marchezan afirmou que as academias deverão voltar a atender apenas um aluno por vez, e não uma quantidade reduzida em relação à sua área, como vinha vigorando.
— Para nós, um aluno por vez é pior ainda. Causa uma má sensação aos nossos alunos. Eles não se sentem atendidos. Economicamente é inviável. A academia é um alívio para as pessoas. É uma válvula de escape. As pessoas e a economia vão adoecer assim — diz Petersen, ao destacar que tem amigos proprietários de academias que pretendem fechar as portas em definitivo.
Segundo o empresário, o investimento na retomada foi grande. Ele cita o custo para higienização dos equipamentos pelos alunos, que chega a representar entre 15 e 18% do valor da mensalidade. Lembra ainda que novos compromissos foram assumidos já que não se tinha qualquer informação de que as academias poderiam sofrer restrições novamente.
Já o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky, afirma que a mudança repentina de regras é nefasta ao setor. Conforme a prefeitura, os bares e restaurantes deverão ser fechados após às 23h a partir de segunda-feira, e, no decorrer na próxima semana as regras poderão se tornar mais rígidas.
— Não é simples abrir e fechar um empreendimento, envolve todo um aparato. Essa medida gera incerteza no empresário e no consumidor. Nós entendemos a questão da saúde, mas não podemos subir e descer desta forma. Os buracos que vão aparecendo, o desemprego e o medo na população podem ser evitados com um pouco mais de diálogo — critica.
Durante a coletiva desta sexta-feira, o prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan afirmou que não busca "culpados" pela aceleração da curva de internações em UTIs e de casos de coronavírus na Capital gaúcha. Para ele, as restrições neste momento são necessárias para que o sistema não entre em colapso logo adiante.
— Não estamos buscando culpados. O que interessa é a referência de leitos ocupados, a capacidade futura de atendimento das demandas e a mobilização que determinadas atividades geram. As medidas no mundo inteiro que se apresentam mais eficazes é com suspensão das atividades econômicas, que diminui a proximidade física, o contágio e a expansão do vírus naquela sociedade específica — declarou.