Analistas ressaltam que, diante dos riscos à economia trazidos pelo coronavírus, um cenário é inevitável: o governo Jair Bolsonaro terá de acelerar ações para reduzir danos e gastar mais. Ou seja, ir além do corte na Selic anunciado pelo Banco Central, mesmo com as dificuldades fiscais existentes no país.
O próprio Planalto reconheceu a situação ao pedir ao Congresso que aprove o estado de calamidade pública no Brasil. Assim, a União poderia descumprir a meta fiscal para 2020, de até R$ 124,1 bilhões. Na segunda-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia confirmado injeção de R$ 147,3 bilhões na atividade para mitigar efeitos da pandemia.
Gestor da Integral Investimentos, Marcos Iório avalia que as medidas anunciadas pelo governo para reduzir danos são "importantes", mas ainda insuficientes. Na visão do analista, é necessário avançar em linhas de crédito "super baratas" para tentar incentivar consumidores e empresas.
— Há uma quantidade grande de trabalhadores informais, restaurantes pequenos que serão impactados no Brasil — sublinha.
Nesta quarta-feira (18), Guedes afirmou que o governo dará auxílio mensal de R$ 200 durante a crise para profissionais sem carteira assinada. Segundo o ministro, a medida integra pacote de R$ 15 bilhões destinado a "populações desassistidas". Para que o auxílio seja liberado aos trabalhadores informais, Guedes disse que o Congresso tem de reconhecer o estado de calamidade pública.
— O governo se mostrou ativo, mas talvez tenha de elevar o volume de ações para ajudar empresas e trabalhadores. Vai precisar abdicar de impostos, de repente antecipar saques do FGTS — observa o economista Alexandre Espirito Santo, da Órama Investimentos. — Isso deve estar na mesa de discussão e provavelmente será usado — completa.
Economistas também sugerem a liberação de mais compulsórios. Esses depósitos são feitos por bancos junto ao Banco Central (BC) para que a quantidade de dinheiro no mercado seja controlada. Parte dos analistas enxerga na liberação uma forma para aumentar o volume de recursos disponíveis e, assim, tentar melhorar as condições de crédito no país.
"O ideal seria liberar de vez os compulsórios bancários a zero, se possível, para deixar o dinheiro queimar na mão dos bancos comerciais. Mesmo que não emprestem à população, uma vez que o risco de inadimplência aumentou com o colapso da atividade, teriam de comprar títulos públicos", comenta, em nota, o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.