A mudança de hábitos provocada pela prevenção do coronavírus atinge em cheio a rotina de empresas no Rio Grande do Sul. Com a recomendação médica para que a população eleve cuidados de higiene e opte pela permanência em casa, segmentos específicos da economia registram disparada na demanda por seus produtos. É o caso, por exemplo, de restaurantes que trabalham com entrega de comida e fabricantes de itens de limpeza.
Com sede em São Leopoldo, no Vale do Sinos, a Alquimis viu as encomendas de álcool gel saltarem nos últimos dias. Diretor-comercial da fabricante, Jairo de Souza relata que, só na segunda-feira (16), a procura pelo produto, "sem medo de exagerar", teve aumento de 500%. Conforme o empresário, o telefone não para de tocar, e pedidos de diversas regiões do país também inundam as caixas de e-mail da companhia.
— O pico da loucura foi ontem (segunda-feira). Poderíamos estar felizes com as vendas, mas este não é o tipo de negócio que traz satisfação. O ambiente está tenso — conta o diretor da Alquimis, que mantém duas filiais no Litoral Norte.
Distribuidoras de produtos de higiene também sentiram os reflexos da chegada do coronavírus ao Estado. Instalada em Canoas, na Região Metropolitana, a Dilimpex passou a registrar filas de espera por encomendas de álcool gel. O avanço na demanda é difícil de ser mensurado em termos percentuais, afirma Cleomara Rodrigues Bueno, sócia-gerente da empresa.
— O aumento na procura é significativo, até porque não trabalhamos apenas com esse produto — diz a empresária.
Especializada em preparar refeições para eventos, a Mule Bule Gastronomia também teve a rotina impactada por medidas de prevenção do coronavírus. Ao mesmo tempo em que a demanda em pontos físicos foi atingida pela suspensão de atividades, a empresa elevou a aposta na Di Maria, sua operação de delivery em Porto Alegre.
Criada em dezembro, a opção de entrega de comida registrou alta de 50% nos pedidos, em média, entre os dias 10 e 17 de março, na comparação com igual intervalo de fevereiro, diz Adelar Kleinert, sócio-diretor da marca. O impulso nas encomendas, feitas via aplicativo, veio no início desta semana, completa o empresário.
— Vimos que os pedidos de entrega de comida foram alavancados agora. Para aumentar a variedade de pratos, reformulamos o cardápio, criamos opções — acrescenta Kleinert.
O avanço na demanda por serviços de entrega vai além da área gastronômica. A rede de supermercados Supermago, de Porto Alegre, teve crescimento nas encomendas de produtos feitas por meio de seu braço de vendas online, o Magodrive. Os itens adquiridos podem ser recebidos em casa pelos clientes. Segundo a diretora da rede, Patrícia Machado, houve salto nas solicitações a partir de segunda-feira.
— Tivemos cinco vezes mais pedidos do que a média. A população deve ficar calma, porque o Brasil é um grande produtor de alimentos. Não trabalhamos com cenário de falta de produtos. Itens como álcool gel ficaram escassos, mas há fila de espera para recebê-los — comenta Patrícia.
Nesta terça-feira, a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) reforçou, em nota, que não existe risco de desabastecimento de alimentos e produtos de necessidade básica. "Alguns itens registraram em algumas horas a venda programada para uma semana. Por mais eficientes que as empresas sejam, não há como reabastecer as gôndolas nesta velocidade", disse o presidente da entidade, Antônio Cesa Longo.
Quem tem aumento na demanda
- Com as medidas de prevenção do coronavírus, segmentos específicos da economia registram alta na procura por produtos.
- Um deles é o de higiene e limpeza. Fábricas e distribuidoras gaúchas viram salto nas encomendas de itens como álcool gel. Diante da demanda incomum, as empresas enfrentam desafios para atender a todas as solicitações.
- O isolamento da população em casas e apartamentos é uma das medidas recomendadas por autoridades para conter o avanço do vírus. E também provoca reflexos na economia.
- Uma das mudanças é a maior procura de clientes por serviços de delivery. Em Porto Alegre, empresários relatam que pedidos de comida via aplicativos dispararam nos últimos dias. Além de restaurantes, redes de supermercados e farmácias atendem a solicitações de entrega de produtos.
- A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) recomenda tranquilidade aos consumidores. Em nota, a entidade informou que as lojas físicas estão adotando medidas de prevenção do coronavírus e relatou que não há risco de desabastecimento.