Em meio à tensão provocada pelo coronavírus na economia, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) voltou a cortar nesta quarta-feira (18) a taxa básica de juro, referência para as linhas de crédito disponíveis no país. Com a baixa de 0,5 ponto percentual, que representa tentativa de estímulo à atividade, a Selic passou de 4,25% para 3,75% ao ano, renovando a mínima histórica. Definido por unanimidade, o recuo é o sexto consecutivo.
A nova redução já era aguardada pelo mercado financeiro diante do baque econômico causado pela pandemia. O que ainda despertava incertezas era a magnitude do corte.
"O Copom entende que a atual conjuntura prescreve cautela na condução da política monetária, e neste momento vê como adequada a manutenção da taxa Selic em seu novo patamar. No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e novas informações sobre a conjuntura econômica serão essenciais para definir seus próximos passos", afirmou o colegiado em nota divulgada após o encontro.
Em sua reunião anterior, em fevereiro, o Copom havia sinalizado que interromperia o ciclo de baixas nos meses seguintes. Só que, à época, os possíveis estragos relacionados ao coronavírus não apareciam no radar com tanta força.
Com a recomendação médica para que a população opte pela permanência em casa, a projeção é de baixa da atividade econômica nas próximas semanas. Diante desse cenário, bancos centrais de diferentes países vêm reduzindo taxas, em esforço para baixar linhas de crédito direcionadas a empresas e consumidores. País dono da maior economia do mundo, os Estados Unidos cortaram o juro para intervalo que varia de 0% a 0,25%.
Gestor da Integral Investimentos, Marcos Iório frisa que a decisão do Copom foi estimulada pelo movimento internacional. Entretanto, o analista considera que, sozinha, a baixa na Selic terá pouco impacto para incentivar a atividade econômica. Na visão de Iório, o governo Jair Bolsonaro terá de combiná-la com novas ações que elevem gastos públicos e atenuem efeitos do coronavírus nos negócios.
— O Copom segue movimento de outros bancos centrais. Mas o juro básico, por si só, tem pouca eficiência na atividade em um momento como este — pontua.
Analistas consultados pelo BC apostavam em Selic de 3,75% ao final deste ano. A estimativa consta na edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda-feira (16) pela instituição financeira. Economista da Órama Investimentos, Alexandre Espirito Santo relata que incertezas impedem leitura mais clara sobre o tamanho do estrago que o coronavírus pode causar nos negócios.
— Os modelos econômicos disponíveis são insuficientes para captar a magnitude do impacto no Produto Interno Bruto (PIB). É muito mais chute agora. Nos 33 anos em que estou no mercado financeiro, nunca havia visto momento de pânico como o atual. Nem a crise de 2008 foi assim — diz Espirito Santo, também professor do Ibmec-RJ.