Depois de 16 meses, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) voltou a cortar a taxa básica de juro do país, em tentativa de estimular a economia, que não conseguiu engatar recuperação. Em reunião encerrada nesta quarta-feira (31), o colegiado reduziu, por unanimidade, a Selic em 0,50 ponto percentual, de 6,5% para 6% ao ano. Com a decisão, o colegiado renovou a mínima histórica da taxa.
Até então, o último corte havia sido confirmado em março do ano passado. De lá para cá, houve 10 reuniões que terminaram com o juro básico mantido em 6,5%. A nova redução era aguardada por analistas do mercado financeiro, já que existem sinais de estagnação na economia e a inflação segue sob controle no país. A dúvida consistia na amplitude da baixa: de 0,25 ponto percentual ou de 0,50 ponto percentual.
Economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte afirma que a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno, na Câmara dos Deputados, em julho, representou fator adicional para o corte na Selic. Ou seja, com o andamento do projeto, empresários enxergam maior possibilidade de ajuste nas finanças públicas. Essa avaliação pode dar fôlego a novos investimentos privados, e o juro mais baixo seria atrativo aos aportes, aponta Fernanda.
– O Copom indicou que o estímulo monetário viria com o andamento da reforma. A economia está estagnada por falta de confiança. Esse sentimento pode voltar a crescer entre empresários com a avaliação mais positiva sobre o futuro da situação fiscal do país – observa a analista.
Analistas acreditam que taxa fechará o ano em 5,5%
O movimento de corte no juro não ficou restrito ao Brasil nesta quarta-feira. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, reduziu a taxa local em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 2% a 2,25% ao ano. Foi a primeira baixa em uma década no país comandado por Donald Trump, que trava disputa comercial com a China.
No Brasil, a Selic é referência para as taxas oferecidas a consumidores por bancos e instituições financeiras. Quando está em nível baixo, como o atual, pode servir de incentivo ao consumo e aos investimentos de empresas. Quando está em patamar alto, ajuda a conter a inflação, porque desestimula o consumo, elevando o juro de financiamentos, empréstimos e cartões de crédito.
"O Copom reconhece que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que a continuidade desse processo é essencial para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia", apontou o comitê em comunicado divulgado após a reunião desta quarta-feira.
– O texto não exclui a possibilidade de novos cortes neste ano, que ficariam reféns do andamento das reformas – analisa Fernanda.
Sócio da consultoria Tendências, o economista Silvio Campos Neto menciona que a alta ociosidade na indústria e o desemprego em nível avançado também influenciaram a redução na Selic. Apesar de ser vista como forma de estímulo, a medida por si só não garante a retomada do país após a última recessão, acrescenta Campos Neto.
– O corte na Selic é um dos elementos da reação. Esperamos novas reduções nos próximos meses. A agenda de reformas e simplificação resultará na maior confiança de empresários e consumidores – pontua o economista.
Analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central projetam que a Selic fechará o ano em 5,50%. A estimativa aparece na edição mais recente do boletim Focus, divulgada pela instituição na segunda-feira (31).