O Federal Reserve (Fed, banco central americano) cortou, nesta quarta-feira (31), sua taxa básica de juros, a primeira redução em 10 anos, para estimular a economia americana, em meio à pressão do presidente Donald Trump.
A taxa agora está na faixa de 2% a 2,25%, um corte de 0,25 ponto. Contudo, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou em coletiva de imprensa que a decisão não abre uma sequência de cortes de juros.
"Eu comparo isso com o começo, por exemplo, de um longo ciclo de cortes. Não é o que vamos ter agora. Essa não é a nossa perspectiva agora, nem nosso panorama", declarou Powell em entrevista coletiva, na qual negou qualquer interferência política na decisão.
"Deixe-me ser claro. Eu disse que não é o começo de uma longa série de corte de juros. Não disse que é só um (corte), nem nada parecido", completou.
Dois integrantes do Comitê de Política Monetária (FOMC) foram contrários à decisão, que visa estimular a economia.
O Fed também anunciou a antecipação do fim da política conhecida como "quantitative tightening", ou QT, que consiste na compra de dívida pública e privada pelo banco central.
Isso significa que a partir de 1 agosto entidade vai começar a se desfazer de suas enormes reservas adquiridas durante a crise financeira mundial.
"Tendo em vista as implicações de desenvolvimento globais para o cenário econômico, bem como pressões inflacionárias nulas, o comitê decidiu reduzir a faixa para a taxa básica de juros para 2% a 2,25%", diz a nota do FOMC.
Embora o comitê ainda espera uma expansão econômica sustentada e um aumento gradual da inflação em direção à meta do Fed, "as incertezas sobre este cenário persistem".
Os integrantes do FOMC vão "continuar a monitorar as implicações das informações sobre o cenário econômico e vão agir de forma adequada para sustentar a expansão, com um mercado de trabalho forte e a inflação perto da meta simétrica de 2%".
- Sem influência política -
Essa é uma mudança significativa de postura para o Fed, que aumentou a taxa de juros - que influencia o custo de todos os tipos de empréstimos a pessoas e empresas, inclusive do cartão de crédito e de financiamentos - quatro vezes no ano passado.
Trump - cuja política comercial agressiva lançou dúvidas sobre o contexto econômico e afetou os cuidadosos planos do Fed - certamente comemorará a redução dos juros, e muito provavelmente vai pedir cortes ainda maiores, como tem feito há meses.
Contudo, na coletiva de imprensa após o anúncio do corte da taxa, Powell afirmou que o FOMC não sofreu influência de Trump.
"Nunca levamos em conta considerações políticas. Não há espaço para isso em nossas decisões", declarou. "Não conduzimos a política monetária a fim de provar nossa independência. Conduzimos ela a fim de ficar o mais perto possível de nossas metas estatutárias. Isso é o que sempre vamos fazer".
A decisão de reduzir os juros não foi unânime: teve oito votos a favor e dois contra. Os dissidentes, Esther George, presidente do Fed de Kansas City, e Eric Rosengren, do de Boston, votaram contra o corte porque "preferiam, nesta reunião, manter a meta da faixa para a taxa básica de juros em 2,25% a 2,5%".
O comunicado admite que "o mercado de trabalho continua forte e a atividade econômica tem crescido em ritmo moderado".
* AFP