Mesmo com o risco de recessão técnica na economia brasileira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) adiou o corte na taxa básica de juro, a Selic. Após reunião encerrada nesta quarta-feira (19), o colegiado confirmou, por unanimidade, a manutenção em 6,5% ao ano, o menor nível já registrado no país. É a décima vez consecutiva que o juro básico permanece inalterado.
Diante do fraco desempenho da economia, analistas do mercado financeiro passaram a projetar que a Selic será reduzida nos próximos meses. Conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda-feira (17), representantes do setor apontam que a taxa atingirá 5,75% ao ano até o fim de dezembro. O Copom terá mais quatro reuniões até lá. A próxima será nos dias 30 e 31 de julho.
A Selic é uma das referências para as linhas de crédito oferecidas aos consumidores brasileiros em bancos e instituições financeiras. Ao mantê-la em nível reduzido, o BC busca tornar empréstimos mais atrativos e, consequentemente, estimular o consumo das famílias e os investimentos de empresas. Ao elevá-la, a instituição pretende controlar a inflação, incentivando a poupança.
Em comunicado divulgado após o encontro desta quarta-feira, o comitê salientou que dados recentes "indicam interrupção do processo de recuperação da economia brasileira". Por outro lado, frisou que o cenário externo mostra-se "menos adverso" e lembrou que medidas de inflação seguem em "níveis apropriados". Diante da situação descrita, "preparou o terreno" para que o corte no juro seja confirmado na próxima reunião, diz o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, José Pena.
— Ao compararmos o comunicado de hoje com o da reunião anterior, é possível ver que o Copom atendeu a expectativas de não cortar o juro agora, mas deixou espaço aberto para redução já na próxima reunião, em julho — sublinha o economista.
Um dos desafios da atual gestão do BC é fazer com que o menor nível histórico da Selic alcance com mais vigor as linhas de crédito disponibilizadas pelos bancos. Desde o início do ciclo de cortes, em outubro de 2016, a taxa caiu 53,6%. No mesmo período, as opções de crédito para pessoas físicas e empresas também baixaram, mas em ritmo menor, com recuos de 25,7% e 34,1%, em média, indica a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
No comunicado desta quarta-feira, o Copom ainda mencionou que "a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a queda da taxa de juro estrutural e para a recuperação sustentável da economia". "O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes", acrescentou o texto.