Com a expectativa de vida aumentando e as mudanças em curso no mercado de trabalho, os brasileiros precisarão se adequar para ter uma velhice mais tranquila do ponto de vista financeiro.
O desafio está lançado, sobretudo para as gerações que começam agora a carreira.
Abaixo, confira o relato de três jovens trabalhadores que já planejam formas de acumular um patrimônio sólido quando chegarem à terceira idade:
Eduardo: guardando até o troco do lanche
O advogado Eduardo Müller Gomes, 24 anos, lembra que, ainda criança, na escola, ouvia o conselho dos pais de sempre guardar algum dinheiro. Nem que fosse o troco do lanche do colégio. O interesse por poupar e investir ocorreu ao natural, incrementado por palestras e busca de informações sobre as possibilidades do mercado financeiro. No horizonte, o desejo de, um dia, atingir um patrimônio de R$ 1 milhão.
Ainda na faculdade, quando ganhava R$ 650 em um estágio, Gomes traçou a meta de tentar aplicar ao menos 10% da renda. Começou na poupança, que considera boa opção pela liquidez (resgate rápido, quando necessário) e para quem guarda o dinheiro para curto prazo. Depois, abriu uma conta em uma corretora. Partiu para fundos de renda fixa.
— Tem segurança e rende acima da inflação — avalia Gomes, lembrando que, à época, ainda não queria partir para opções de maior risco, como ações.
Alcançar o número mágico de R$ 1 milhão, agora, não é o mais importante. As responsabilidades vão aumentando, e os objetivos são outros.
— Penso na aposentadoria. Ter uma renda maior no futuro, patrimônio e segurança, caso aconteça algum problema. Com a reforma da Previdência, é importante ter dinheiro guardado. Será mais difícil e demorado se aposentar — diz o advogado, que, como profissional liberal, é obrigado a contribuir com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
Mesmo que não tenha uma renda fixa por mês, a meta de guardar e investir em torno de 10% do ganho médio projetado se manteve. Hoje, a alocação é mais diversificada. Boa parte segue em renda fixa, mas há uma quantia aplicada em fundos multimercados (que mesclam títulos do tesouro, ações e câmbio, por exemplo) e em ações de estatais que, acredita, tendem a se valorizar.
A ideia é guardar, acumular patrimônio e só sacar no meio do caminho em caso de extrema necessidade, como um problema de saúde. Nada de imediatismo ou de usar o dinheiro para consumo, como comprar um carro. Automóvel, lembra Gomes, não é investimento. Pelo contrário. Dá mais despesas.
Mauricio: consciência formada na dificuldade
Quando ainda estava no Ensino Médio, o estudante Mauricio Fernando do Carmo Menezes, 19 anos, começou a atentar sobre as notícias relacionadas à reforma da Previdência. Ele sabe que a tendência é de o brasileiro viver mais e, ao mesmo tempo, tem dúvida de como será o mercado de trabalho quando chegar à terceira idade. Hoje, percebe Menezes, conseguir trabalho em idades mais avançadas parece já não ser tarefa fácil.
— Meu trabalho não é insalubre, não tenho periculosidade, então, o tempo até eu me aposentar será longo. Mesmo que eu consiga me manter no mercado por todo esse tempo, não posso contar apenas com o INSS — diz Menezes, que trabalha há menos de um ano com carteira assinada no Senac Comunidade, na Capital, onde é auxiliar administrativo, além de cursar a faculdade de Gestão de Recursos Humanos.
Bolsista no curso superior, Menezes ainda mora com os pais, o que tira um pouco a pressão dos gastos. Assim, consegue poupar – e começou a pensar em questões como previdência privada e formas de investir o dinheiro que consegue ganhar.
— No momento, aplico na poupança. Mas, quando conseguir juntar mais, quero algo com rentabilidade maior, como o tesouro direto — revela o jovem.
A consciência financeira, conta o rapaz, vem de casa, efeito de um período difícil atravessado pela família, quando vários gastos precisaram ser cortados.
— Assim aprendemos que é necessário poupar e nunca gastar mais do que se ganha. É preciso ter algo guardado para eventualidades e para o caso de, em certo momento, ficar difícil retornar ao mercado de trabalho — defende.
Embora a distante aposentadoria seja uma aflição, por enquanto ele avista objetivos de mais curto prazo. Calcula que, em cinco anos, vai conseguir juntar em torno de R$ 50 mil, para dar entrada em um imóvel. Depois, a ideia é começar a formar o pé-de-meia para um horizonte mais longo.
Ingrid: décadas de planejamento
Recém-chegada ao mercado de trabalho, Ingrid Guimarães, 18 anos, mira longe. Foi efetivada há apenas quatro meses em uma empresa de refeições coletivas onde antes havia sido Jovem Aprendiz. Seu serviço é cuidar dos chamados de manutenção das cozinhas das unidades. Mesmo sujeita aos percalços da vida profissional, o foco é nunca perder a carteira de trabalho assinada. Para acumular experiência, renda, tempo de contribuição e conseguir guardar mais dinheiro.
Ingrid faz faculdade de Engenharia da Produção e ainda ajuda nas despesas da casa, em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde vive com a mãe e as duas irmãs. Mesmo assim, diz ter a meta de guardar 15% do salário, que fica na caderneta. A poupança, por enquanto, não é direcionada para o longuíssimo prazo.
— Meu planejamento financeiro é sempre guardar um pouco do meu salário, nem que seja um valor baixo. Por enquanto, não penso muito lá na frente. Acho que, aos poucos, vou fazendo minhas conquistas. Quero crescer dentro da empresa e, quando estiver em uma situação melhor, guardar mais — diz Ingrid, que fez o Ensino Fundamental e o Médio em escola pública.
A intenção é subir na carreira e, com isso, progressivamente ampliar as reservas financeiras. E então começar a acumular patrimônio para se preparar para o fim da jornada laboral.
— Aposentadoria me preocupa, sim. Pela reforma da Previdência do governo, sei que será mais difícil. Mas, se eu aplicar bem o que ganho, por conta própria, acho que poderei aproveitar o resto da vida — projeta ela, que, nas aulas do programa Jovem Aprendiz, teve lições de educação financeira.
Mesmo com décadas de labuta à frente, o objetivo é se planejar para garantir que não vai passar aperto quando chegar a hora de deixar o mercado de trabalho.