A líder do governo no Congresso Nacional, deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), disse a jornalistas nesta quinta-feira (28) que, a cada alteração feita por parlamentares na proposta de reforma da Previdência, o país "corre o risco de perder na economia". A afirmação foi realizada após o presidente Jair Bolsonaro sinalizar que pode recuar na questão da idade mínima de aposentadoria para mulheres, passando de 62 anos para 60 anos.
Na avaliação da deputada, apesar de "o melhor texto" ser "este que foi apresentado pela equipe econômica", o governo está disposto a dialogar com os parlamentares das duas Casas.
— Cabe agora a nós, liderança no Congresso, na Câmara, e à nossa base, fazer um trabalho de convencimento para que nossos parlamentares entendam que qualquer mexida extra é prejudicial no texto da Previdência. Ponto — afirmou a jornalistas.
Em um café da manhã com jornalistas nesta quinta, o presidente afirmou que pode haver alterações no texto:
— Eu acho que dá para cortar um pouco de gordura e chegar a um bom termo, o que não pode é continuar como está (o déficit na Previdência) — afirmou.
As declarações foram feitas durante um café da manhã com jornalistas. Não foi permitido gravar o encontro. Apenas profissionais da Globo, Record, Rede TV!, Band, O Estado de S. Paulo, UOL, Correio Braziliense, Band e Valor foram convidados para o evento.
"Economia na casa do trilhão"
Joice ponderou que o presidente Jair Bolsonaro é "muito sensível" e entende que o Congresso tem autonomia para mexer na proposta. Ela reiterou que o governo está mandando recado para os parlamentares de que está disposto a dialogar e que não será impositivo.
— Há uma margem para que se trabalhe? Sempre há, mas não pode ser muito grande. A gente tem que ter a economia na casa do trilhão. Já disse isso e repito: é a espinha dorsal da nossa reforma. Não dá para a gente estimular qualquer tipo de mexida que tenha impacto muito grosseiro aí na questão econômica — disse.
A desidratação do texto colocou a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, em uma saia-justa porque as negociações na prática ainda nem começaram. Guedes fixou como piso uma economia de R$ 1 trilhão com os gastos com Previdência e tem dito a interlocutores ouvidos pelo jornal Estado de S. Paulo que não é possível reduzir esse valor, sob pena de enfraquecer a importância da reforma.
Guedes tem insistido no ponto de que é preciso "compensar" cada mudança com outras. A crítica na equipe econômica é que Bolsonaro precisa logo definir o "articulador" político que vai negociar a reforma.
De acordo com a deputada, a articulação política e a negociação com parlamentares da base da oposição serão feitas por ela, que é líder no Congresso, pelo ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni, e pela liderança do governo na Câmara, major Vitor Hugo (PSL-GO), no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
— O presidente nos dá a sinalização e nós fazemos a negociação. Então tudo vai ocorrer da melhor forma, no tempo certo. E vai ser na margem certa. Tenho certeza que nosso Congresso vai ter responsabilidade com a nova reforma — disse.
Reação do mercado
A sinalização do presidente de que apoia mudanças na proposta de reforma da Previdência apenas uma semana após sua apresentação ao Congresso ajudou a azedar a reação do mercado, ao lado do crescimento baixo do PIB.
O resultado foi um tombo de quase 2% da Bolsa brasileira no último pregão de fevereiro, consolidando o mês negativo do mercado. O dólar avançou nesta quinta-feira.
Emendas
Joice disse ainda que as emendas são uma "questão tradicional" do Congresso e que elas são saudáveis do ponto de vista político, desde que aplicadas para o bem da população, e não como "instrumento de chantagem e de toma-lá-dá-cá."
— As emendas são impositivas, o governo já disse que não vai contingenciar emendas. Elas são importantes, desde que bem aplicadas pelos parlamentares em seus municípios para ajudar a resolver a vida da população. É uma forma de o parlamentar ajudar o seu prefeito, ajudar o seu governador, ajudar uma obra específica, ajudar na área da saúde — afirmou.