A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) avalia que a economia brasileira poderá ganhar fôlego e engatar retomada mais consistente a partir do próximo ano. Em apresentação realizada nesta terça-feira (4), em Porto Alegre, a entidade empresarial projetou que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional deverá subir 2,8% em 2019. A estimativa foi divulgada durante balanço anual promovido pela Fiergs.
Para a entidade, o desempenho da economia poderá ser estimulado caso o futuro governo de Jair Bolsonaro (PSL) avance na agenda de reformas prometida durante a campanha presidencial. Além disso, a Fiergs pontuou que o próximo ano é considerado "típico" pelo fato de não ter eventos como as eleições, que espalharam incertezas e frearam investimentos em 2018, e a Copa do Mundo, vista como fator que reduziu a movimentação em segmentos como o comércio.
– Estou otimista de que o ano que vem será melhor do que este – afirmou o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.
Apesar da tendência de reação mais firme, a entidade salientou que há riscos no horizonte. O economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes, relatou que, se o governo Bolsonaro não promover reformas e o cenário internacional trouxer turbulências ao Brasil, o crescimento do PIB será abalado. Caso isso ocorra, a alta de 2,8% deverá ser reduzida para 1,6%, aponta a entidade. Por outro lado, no cenário mais otimista citado pela Fiergs, que dependerá de implementação "rápida" de reformas e melhora no quadro fiscal, o avanço poderá saltar para 3,6%.
– Os maiores riscos estão relacionados a uma eventual piora no cenário internacional e à condução das reformas. O futuro governo precisa sinalizar, já no primeiro trimestre do ano que vem, quais serão as mudanças que deseja para a Previdência – sublinhou Nunes.
Durante a apresentação, a influência da área política sobre a econômica foi tema recorrente das avaliações da Fiergs. Apesar de reiterar que está confiante com as sinalizações do futuro governo, Petry mencionou que um ministério próprio para a indústria "facilitaria interlocuções" – a pasta destinada hoje ao setor passará a integrar o superministério da Economia. O presidente da Fiergs ainda rebateu o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que criou polêmica ao dizer, em outubro, que a gestão Bolsonaro "salvará a indústria, apesar dos industriais":
– Particularmente, acho que o Paulo Guedes não deveria ter dito isso. Ele é oriundo do setor bancário, que opera com taxas que a indústria reclama. Seria possível dizer também que a indústria se salvará, apesar dos banqueiros.
Por setores, a Fiergs projeta que a maior alta no país virá das fábricas em 2019. A previsão da entidade é de que, no cenário base, a indústria crescerá 3%. Na sequência, o segmento de serviços deverá subir 2,7%, e a agropecuária, 1,1%, indica o balanço.
A Fiergs ainda estima que o Rio Grande do Sul pegará carona no desempenho brasileiro. Para a entidade, no cenário base, a alta do PIB gaúcho chegará a 2,4% no próximo ano. No quadro mais pessimista, ficará só em 1,2%. No mais otimista, passará para 3,8%.
Segundo a Fiergs, o principal empurrão para o crescimento estadual também será registrado na indústria, cuja elevação estimada é de 2,8%. A entidade ainda prevê, no cenário base para os gaúchos, expansão de 2,5% na agropecuária e de 2% em serviços.
Frustração de estimativas
- Em dezembro do ano passado, a Fiergs havia projetado que o Produto Interno Bruto (PIB)brasileiro cresceria 2,7% em 2018, variando de 1,8%, no pior cenário, a 3,2%, no melhor. Conforme a entidade gaúcha, as previsões foram abaladas pelo desempenho da economia em nível aquém do esperado desde janeiro.
- Entre os fatores listados para a frustração das estimativas, estão a greve dos caminhoneiros, a crise na Argentina – que prejudicou exportações – e o adiamento da reforma da Previdência.
- A previsão mais recente de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central (BC) é de que o PIB nacional fechará o ano com avanço de 1,32%. O resultado oficial de 2018 deverá ser divulgado em fevereiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
- Em 2017, a Fiergs também havia estimado alta de 2% para a economia gaúcha neste ano, com possibilidade de flutuação entre 0,8% e 3,2%. O cálculo do PIB do Rio Grande do Sul virou alvo de impasse após o governo do Estado encerrar, no primeiro semestre, as atividades da Fundação de Economia e Estatística (FEE), até então responsável pelo levantamento. O Palácio Piratini contratou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para produzir o estudo oficial, mas teve o contrato com a entidade paulista suspenso por decisão judicial em julho.
AS EXPECTATIVAS
Projeções da Fiergs para 2019
BRASIL
PIB
Cenário inferior: 1,6%
Cenário base: 2,8%
Cenário superior: 3,6%
Indústria
Cenário inferior: 1,5%
Cenário base: 3%
Cenário superior: 4%
Serviços
Cenário inferior: 1,8%
Cenário base: 2,7%
Cenário superior: 3,5%
Agropecuária
Cenário inferior: -3,5%
Cenário base: 1,1%
Cenário superior: 3%
Inflação medida pelo IPCA
Cenário inferior: 3,2%
Cenário base: 4,1%
Cenário superior: 5,3%
Geração de empregos formais
Cenário inferior: 553,8 mil
Cenário base: 858,3 mil
Cenário superior: 1,2 milhão
Taxa de desemprego ao fim do ano
Cenário inferior: 11,9%
Cenário base: 11,3%
Cenário superior: 10,7%
Exportações
Cenário inferior: US$ 235,1 bilhões
Cenário base: US$ 244,9 bilhões
Cenário superior: US$ 252,1 bilhões
Importações
Cenário inferior: US$ 175 bilhões
Cenário base: US$ 181,4 bilhões
Cenário superior: US$ 185,4 bilhões
Balança comercial
Cenário inferior: US$ 60,1 bilhões
Cenário base: US$ 63,5 bilhões
Cenário superior: US$ 66,7 bilhões
Taxa Selic (juro básico) ao fim do ano
Cenário inferior: 6,25%
Cenário base: 6,5%
Cenário superior: 8%
Taxa de câmbio ao fim do ano
Cenário inferior: R$ 4,20
Cenário base: R$ 3,75
Cenário superior: R$ 3,20
RIO GRANDE DO SUL
PIB
Cenário inferior: 1,2
Cenário base: 2,4%
Cenário superior: 3,8%
Indústria
Cenário inferior: 1,8%
Cenário base: 2,8%
Cenário superior: 4%
Serviços
Cenário inferior: 1,5%
Cenário base: 2%
Cenário superior: 3,3%
Agropecuária
Cenário inferior: 0,5%
Cenário base: 2,5%
Cenário superior: 4,5%
Geração de empregos formais
Cenário inferior: 27,3 mil
Cenário base: 54,6 mil
Cenário superior: 81,5 mil
Taxa de desemprego ao final do ano
Cenário inferior: 7,7%
Cenário base: 7,3%
Cenário superior: 7%
Exportações
Cenário inferior: US$ 16,6 bilhões
Cenário base: US$ 17,2 bilhões
Cenário superior: US$ 17,9 bilhões
Importações
Cenário inferior: US$ 11,5 bilhões
Cenário base: US$ 11,9 bilhões
Cenário superior: US$ 12,4 bilhões
Balança comercial
Cenário inferior: US$ 5,1 bilhões
Cenário base: US$ 5,3 bilhões
Cenário superior: US$ 5,5 bilhões