Na briga para superar a crise que se instalou no país, o Rio Grande do Sul fechou os primeiros seis meses de 2018 com saldo positivo de 26,3 mil vagas formais de emprego. Embora o balanço seja melhor do que o registrado no mesmo período de 2017, os últimos três meses voltaram a assinalar números negativos, e as projeções de analistas para o segundo semestre são desanimadoras, com raras exceções.
Calculada a partir do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que exclui trabalhadores informais, a conta resulta da diferença entre contratações e demissões. De janeiro a junho de 2017, sem considerar ajustes posteriores nos números (muitas empresas informam dados com atraso), foram criados 1,1 mil novos postos, puxados, basicamente, pela indústria de transformação.
Neste ano, o avanço foi maior e também se deveu em grande medida ao setor industrial. Conforme o Caged, as fábricas abriram 22,2 mil oportunidades com carteira assinada no Estado. Além das beneficiadoras de tabaco, que contratam mais nessa época devido à safra de fumo, o setor calçadista voltou a se destacar. Outra área em evidência foi a de serviços, que registrou um salto.
Apesar de importantes, os dados devem ser vistos com cautela. Economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lucia Garcia faz ressalvas, inclusive sobre as limitações do Caged, que exclui os trabalhadores na informalidade. A especialista aponta problemas e projeta dificuldades.
– O ano de 2015 foi ruim e 2016 foi péssimo. Em 2017, a gente ficou a 20 centímetros do fundo do poço. Quando falamos de 2018, estamos, no máximo, a meio metro dele. Sempre haverá quem diga que paramos de piorar, mas a verdade é que estamos estagnados, com oscilações. O quadro é muito complicado – adverte Lucia.
Desde abril, o mercado formal voltou a derrapar. No mês passado (cujas estatísticas do Caged ainda não foram divulgadas pelo Ministério do Trabalho), o Estado foi surpreendido por duas notícias desalentadoras: a falência da Crysalis, em Três Coroas, com 400 demissões, e o fechamento de quatro unidades da Bottero, em Osório, Santo Antônio da Patrulha, Nova Petrópolis e Parobé, com outros 630 desligamentos.
A reviravolta dos últimos meses, conforme Giácomo Balbinotto Neto, professor de Economia do Trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), decorre de um conjunto de fatores, a começar pela permanência da crise, reforçada pela greve dos caminhoneiros. Outro ponto relevante é a indefinição política.
– Está tudo muito incerto. Isso faz com que o ambiente de negócios fique instável, e as consequências são visíveis – afirma o pesquisador.
Embora o ceticismo impere, há quem anteveja cenário menos ruim até dezembro. É o caso de Patrícia Palermo, economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS).
– Os últimos resultados frustram um pouco, mas acredito em um segundo semestre pouco melhor, com alguma recuperação, mesmo que marginal. Não estou propriamente otimista, mas menos pessimista – diz Patrícia.
Recuperação no setor de serviços
Depois de resultado negativo no primeiro semestre de 2017, a situação do setor de serviços se inverteu. De janeiro a junho deste ano, a área criou 12,2 mil postos formais de trabalho – em igual período de 2017, o saldo foi negativo: 335. O ramo que mais se destacou foi o imobiliário, com 4,6 mil empregos.
Em Porto Alegre, a boa fase beneficiou profissionais como Fábio Machado dos Santos. Após seis meses desempregado, ele conseguiu nova chance em abril, na imobiliária Ducati Lopes, como gerente administrativo de locações. Depois disso, ainda acompanhou a contratação de mais dois colegas.
– Estou satisfeito. Como o negócio de locações é novo no grupo, quero contribuir para que avance. Espero crescer junto, ao lado da equipe – diz Santos.
Outras imobiliárias, como a Guarida Imóveis, ajudaram a engrossar o contingente de contratações na Capital.
Ao longo do semestre, segundo a diretora de desenvolvimento organizacional da empresa, Clara Bandeira, a equipe de tecnologia da informação mais do que dobrou.
– Tínhamos quatro colaboradores na área e aumentamos para nove, porque acreditamos na importância de investir em inovação – afirma Clara.
Comércio ainda está no negativo
A exemplo do que já havia ocorrido no primeiro semestre de 2017, o comércio foi o setor com o pior desempenho no Rio Grande do Sul, em termos de emprego com carteira assinada nos meses de janeiro a junho de 2018. Foram fechadas 8,4 mil vagas formais, ante 6,8 mil no ano passado, puxadas, em ambos os casos, pelo segmento varejista.
Economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo ressalta que a diferença entre os dois anos foi menor (com perda de 7,7 mil vagas em 2017), levando em conta ajustes nos dados do Caged efetuados depois de junho.