A Ecovix conseguiu evoluir mais um degrau na tentativa de evitar o sucateamento do Estaleiro Rio Grande, símbolo do polo naval da região sul do Estado. Nesta terça-feira (26), o plano de recuperação judicial da empresa foi aprovado em assembleia geral de credores. Realizado no Hotel Villa Moura Executivo, em Rio Grande, o encontro se estendeu por quase três horas.
Com o avanço, o plano segue para homologação da Justiça, com possibilidade de garantir maior fôlego à dona do estaleiro. A proposta apresentada reúne medidas que devem ser adotadas para o pagamento de dívida de cerca de R$ 7 bilhões.
– A assembleia, com 150 credores presentes, foi um voto de confiança em relação ao estaleiro – define Rodrigo Tellechea, um dos advogados da Ecovix.
Para preservar os ativos do complexo, avaliados em US$ 1 bilhão (em torno de R$ 3,8 bilhões), a companhia busca a criação de uma unidade produtiva isolada (UPI). Na prática, a Ecovix terá de encontrar interessados na compra da estrutura. O destaque do estaleiro é o dique seco, usado na construção de embarcações e apresentado como o maior do hemisfério sul.
A Ecovix afirma que a UPI poderá diversificar as operações em Rio Grande. Segundo a empresa, o estaleiro teria condições de receber atividades como movimentação de cargas, reparos em plataformas e processamento de aço. Para isso, além de encontrar investidores, a empresa precisará de autorização do Estado e da União, já que a área cedida ao complexo é destinada à construção naval, segundo a Superintendência do Porto de Rio Grande.
– A assembleia aprovou um plano para pagamento aos credores. Esperamos que, apesar da dívida astronômica, a empresa busque investidores e gere empregos. Ainda não sabemos se isso vai acontecer. Seguimos cautelosos – avalia Sadi Machado, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Rio Grande e São José do Norte.
A empresa é uma associação entre a empreiteira Engevix e o FIP RG Estaleiros, no qual a Funcef (fundo de pensão da Caixa Econômica Federal) também tem participação acionária. O pedido de recuperação judicial da companhia ocorreu em dezembro de 2016. De lá para cá, a companhia encontrou dificuldades para destravá-lo. Em março deste ano, a assembleia geral de credores chegou a ser suspensa após questionamento da Funcef.
A entidade quer a separação do Estaleiro Rio Grande dos demais ativos da Ecovix. Essa medida garantiria à Funcef responder apenas pelos débitos do complexo. O fundo de pensão da Caixa garante que, caso não haja a separação, buscará vetar o plano assim que for enviado para homologação.
No começo da noite desta terça-feira, o governador José Ivo Sartori (MDB) comemorou o resultado da assembleia de credores. Em redes sociais, declarou que a aprovação do plano representa "mais um importante capítulo" para o estaleiro.
Desde a inauguração do dique seco, em 2010, a Ecovix finalizou cinco plataformas. No auge do polo naval, em 2013, eram 10 mil trabalhadores somente no complexo da companhia. Hoje, há apenas 65, entre diretos e indiretos.
A série de demissões atingiu Rio Grande com maior força a partir do início da Operação Lava-Jato, em 2014. Após a descoberta de irregularidades em contratos com estaleiros nacionais, a Petrobras cancelou encomendas de plataformas e passou a apostar no Exterior. A estatal argumenta que os custos e o tempo de entrega dos pedidos são menores em países como a China.
A Ecovix afirma que, em valores, seu pedido de recuperação judicial é o quarto maior do país.
– A aprovação do plano é o primeiro passo para a reestruturação. Nos próximos dois anos, a Ecovix pretende fazer a limpeza necessária para que o estaleiro desenvolva outras atividades – comenta Alexandre Faro, um dos advogados da Ecovix.
Quanto vale
- Os ativos da Ecovix são avaliados em US$ 1 bilhão no Estaleiro Rio Grande. Entre eles, destaca-se o dique seco, apresentado pela companhia como o maior do hemisfério sul.
- A inauguração da estrutura, usada na construção de embarcações, ocorreu em outubro de 2010, com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De lá para cá, a empresa entregou cinco plataformas de exploração de petróleo.
O apogeu
- Em seu auge, em 2013, o estaleiro chegou a empregar cerca de 10 mil trabalhadores diretos. À época, o avanço do polo naval despejou otimismo na economia de Rio Grande e da vizinha São José do Norte.
- Com a chegada de operários dos quatro cantos do país, faltou espaço para hospedagem nos municípios. Colônia de férias, delegacia e estúdio de rádio viraram acomodações para trabalhadores.
A virada
- O humor começou a mudar em 2014. Com a descoberta de irregularidades em contratos da indústria naval, a Petrobras passou a apostar em encomendas no Exterior.
- Ao justificar a escolha, a estatal declara que os custos e o tempo de entrega dos pedidos feitos em países como a China são menores do que no Brasil.
A queda
- A redução nas operações deu início a uma série de demissões e escancarou as dificuldades financeiras da Ecovix. Com dívida de cerca de R$ 7 bilhões, a empresa solicitou recuperação judicial em dezembro de 2016.
- A companhia afirma que seu pedido, em valores, é o quarto maior do país.
A tentativa
- Desde então, o avanço do processo esbarrou em divergências com partes envolvidas. Enquanto busca evitar, na Justiça, o sucateamento de seus ativos, a Ecovix emprega hoje apenas 65 trabalhadores diretos e indiretos.
- A companhia defende a criação de uma unidade produtiva isolada (UPI). A medida permitiria que investidores interessados assumissem as instalações em Rio Grande. Com a negociação do estaleiro, os ativos seriam preservados.
- Segundo a Ecovix, os eventuais interessados no projeto poderiam apostar em atividades como movimentação de cargas, reparos em plataformas e processamento de aço.
- Para a expansão das operações, seria necessária a autorização de Estado e União, já que a área cedida ao estaleiro é destinada apenas à construção naval, conforme a Superintendência do Porto de Rio Grande.