Aprovar o plano de recuperação judicial da Ecovix é o primeiro passo de um longo caminho. Foi o que confirmou ontem assembleia de credores que representam direitos de R$ 7 bilhões. É muito melhor do que a alternativa – a empresa rumaria para a falência –, mas a prometida "retomada de atividades no polo naval de Rio Grande", como a empresa se manifesta sobre a oportunidade, tem vários obstáculos a superar. O primeiro é a ameaça de veto da Funcef, entidade de previdência complementar da Caixa Federal.
A entidade tem 25% do FIP RG Estaleiro, proprietário das instalações na cidade portuária. Os outros 75% são da Ecovix. Conforme Andrea Morata, gerente de participações, a Funcef tem poder de veto para a execução do plano caso seu pedido de separação dos ativos, apresentado na véspera da assembleia de credores, não seja aceito.
O que a Funcef alega é que, ao entrar com pedido de recuperação judicial, a Ecovix incluiu 100% do RG Estaleiro. Isso tornaria a entidade responsável por parte da dívida de mais de R$ 7 bilhões quando, na verdade, a empresa que opera em Rio Grande tem débitos de cerca de R$ 1 bilhão.
– Da forma encaminhada, o ativo que tem participação da Funcef será usado para pagar a dívida do grupo – diz Andrea.
Caso o problema com a Funcef seja resolvido, começa o maior desafio da Ecovix: encontrar investidor capaz de aplicar bilhões para assumir um negócio de futuro incerto. A intenção é transformar as instalações em terminal multimodal, para cargas e reparos em plataformas e embarcações. A coluna torce para que dê certo, não para salvar as finanças da Ecovix, mas resgatar um raro investimento público em infraestrutura no Brasil, o dique seco. Há luz sobre o guindaste. Tênue, mas há.
– Temos interesse que o estaleiro funcione, mas tem de ser feito da forma certa. A Funcef se compromete com uma recuperação da RG, porque é preciso fazer alguma coisa. Só não podemos assumir uma dívida que não é do FIP. Ao fazer isso, estamos inclusive cuidando do interesse de 10 mil gaúchos cotistas do fundo – pondera Andrea.