Depois de 16 meses, a Ecovix tenta dar um final menos amargo a seu processo de recuperação judicial, que embute dívida de R$ 7,6 bilhões. A dona do Estaleiro Rio Grande (foto abaixo) pediu proteção contra cobranças em dezembro de 2016. Postergou a decisão, por falta de consenso. Na semana passada, a assembleia de credores se encaminhava para bom termo. Nesse ponto, a Funcef (fundo de pensão da Caixa Econômica Federal) obteve liminar judicial para suspender a reunião, concedida pelo desembargador Luis Augusto Coelho Braga, do Tribunal de Justiça do Estado (TJ), por não concordar com os termos do acerto.
Christiano Morales, diretor executivo, e Ricardo Ávila, diretor operacional da Ecovix, explicaram à coluna que a empresa retomou a gestão de Rio Grande depois da retirada do banco Brasil Plural. Ontem, líderes da comunidade de Rio Grande foram ao TJ defender uma decisão favorável ao acordo. Levaram a nova perspectiva da proprietária do estaleiro sobre o futuro do ativo: aprovada a negociação, a Ecovix criaria subsidiária para a qual transferiria tanto os ativos – dique seco, área para construção e manutenção de plataformas e navios – e débitos convertidos em debêntures (títulos de dívida privada) de 20 anos, cada um no valor de R$ 3,6 bilhões.
Como a construção de cascos tornou-se inviável, a expectativa é implantar um terminal multimodal, que opere desde movimentação de cargas até reparos em plataformas petrolíferas e embarcações. Seria preciso encontrar um interessado disposto a mergulhar meia dúzia de bilhões no projeto. Embora pareça difícil de identificar um grupo com esse perfil e esse apetite, Morales e Ávila asseguram que já surgiram consultas.
– Estamos brigando contra o tempo. Hoje, o ativo é ativo. Dentro de um ano, pode virar passivo – diz Morales.
Segundo o executivo, será uma semana decisiva para o futuro de Rio Grande e do Estado.
A Ecovix é uma associação entre a Engevix, uma das empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato, e o FIP RG Estaleiros. A Funcef, por sua vez, tem participação acionária no FIP. Em tese, todos têm interesse em converter ao menos parte do passivo de R$ 7,6 bilhões em ativo.
O abandono de uma obra pública que custou milhões de reais aos contribuintes – o dique seco é o maior da América Latina –, é o aspecto mais lamentável na indefinição do pedido de recuperação judicial. O mais importante é contemplar o interesse público, evitando somar desperdício aos recursos desviados nos desvãos do propinoduto em que se transformaram, por um longo períoodo, os contratos com a Petrobras.