Quando começou a construção do dique seco em Rio Grande, ainda não era claro o tamanho da ambição para o polo naval. A estrutura foi montada aos poucos, mas o grande salto foi o anúncio, em 2007, da "fábrica de cascos" – a base do que é hoje o Estaleiro Rio Grande, operado pela Ecovix depois de vencer licitação no valor de US$ 3,75 bilhões. A ideia era aplicar na construção naval a concepção de montagem em série da indústria automobilística. Havia consciência de que custaria mais e levaria mais tempo, mas a Petrobras justificava o investimento baseada na "curva de aprendizado": o primeiro custaria mais e levaria mais tempo, o segundo reduziria a lacuna com os parâmetros internacionais e seguiria assim até fechar a primeira leva.
Leia mais
Rio Grande discute pedido de recuperação judicial da Ecovix
Para evitar quebradeira, indústrias pedem conteúdo nacional produtivo
"Vou mudar toda a indústria naval brasileira", diz executivo gaúcho
Contratações em Rio Grande são pausa em cenário de corte de vagas
Os primeiros sinais de problemas surgiram logo: o primeiro casco atrasou mais de um ano. Era uma demora acima da tolerável. À medida que a crise apertou e que a Operação Lava-Jato passou a tirar a camada que cobria negócios escusos no setor naval, espalhando respingos em praticamente todas as empresas que operavam no segmento, as dificuldades aumentaram. A demissão de 3,2 mil dos 3,7 mil funcionários da Ecovix pode representar o naufrágio definitivo do sonho de desenvolvimento da Metade Sul. A empresa ainda não confirma, mas admite que o pedido de recuperação judicial pode ser a próxima etapa do processo. Informações não confirmadas estimam as pendências da Ecovix em R$ 6 bilhões, o que torna difícil projetar alguma forma menos dolorida de equacionamento.
Os sinais que a indústria naval brasileira corria o risco de afundar vêm de longe, tanto que provocaram mobilização de sete federações empresariais capitaneadas pela Firjan, na semana passada. Nesta quarta-feira, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) se reúne para definir a política de conteúdo nacional. Essa decisão pode lançar uma boia aos milhares de empregos lançados ao mar pela combinação das crises. Ou determinar seu naufrágio definitivo.