Apesar da dúvida da maior parte dos analistas do mercado financeiro, a operação de venda de ações do Banrisul também encontra defensores entre profissionais da área. O gerente de renda variável da Austro Capital, Rafael Weber, avalia que, como o Estado acabou colocando mais papéis no mercado, aumentou a liquidez dos ativos do banco e isso, diz, é algo que no longo prazo se reflete em valorização.
Weber também não vê problema na escolha da corretora do BTG Pactual e no fato de a maior parte das compras da primeira operação, com ações preferenciais, ter sido intermediada pela própria empresa.
– A BTG recebe o mandato de vender as ações e vai ao mercado atrás de potenciais compradores. Óbvio que deve ter feito isso com os seus clientes, porque quer a corretagem (taxa de intermediação do negócio) dentro do banco. Não acho totalmente estranho – diz Weber, ressaltando que, em regra, quem compra não é a corretora que faz a oferta, mas os seus clientes, como fundos, investidores institucionais e pessoas físicas.
Em relação à segunda operação, com ações ordinárias, Weber interpreta como início de um movimento que pode ajudar a dar mais liquidez aos papéis. Hoje, quase não há negociação com esse ativo. Observa ainda que grande parte do mercado torce pela privatização do banco, o que poderia levar à valorização muito maior das ações.
Como essa possibilidade está fora do radar do Piratini, a estratégia de recuar na oferta pública que colocaria à venda 128 milhões de papéis preferenciais e ordinários e se desfazer de forma fatiada seria “inteligente”, defende o analista. Isso porque não geraria grande oferta em um momento apenas, o que poderia pressionar ainda mais para baixo as cotações do título.
O Estado se defende alegando que, ao menos, o preço das duas operações saiu acima do valor patrimonial das ações, que é o resultado da divisão do patrimônio líquido pelo número de papéis da companhia.
Uma fonte que acompanhou a operação de perto assegura que nada foi comprado pelo banco BTG Pactual. Apenas por clientes. Sustenta ainda que o maior banco privado de investimentos do país, apesar de ter acionado a sua rede de clientes para aumentar a busca pelos papéis, não teria comunicado seus contatos antes da publicação do edital do leilão do dia 10 de abril. Assim, a especulação sobre possível uso de informação privilegiada na transação é rechaçada.
Em relação ao preço mínimo fixado para as operações, teriam sido levados em consideração fatores como situação do mercado, liquidez, volume negociado e fluxo, além de um desconto normal em operações do gênero em relação às cotações dos últimos dias, estratégia para garantir demanda pelas ações.