Uma decisão da Petrobras causou indignação nesta semana entre lideranças sindicais e empresariais ligadas ao polo naval de Rio Grande, que vive período de crise após ondas de demissões atingirem seus estaleiros. A estatal confirmou na segunda-feira (5) que o casco da plataforma P-71 será feito na China — a integração dos módulos ocorrerá no Espírito Santo. A companhia havia rompido o contrato com o estaleiro Ecovix, no fim de 2016, e desistido da produção na cidade do sul do Estado. Hoje, o que sobrou do casco que seria da P-71 está parado no complexo gaúcho.
Vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José Norte, Sadi Machado afirma que em torno de 50% da estrutura está pronta no Ecovix. Segundo ele, se o casco fosse concluído em Rio Grande, seriam necessários de 800 a mil empregados diretos.
— O fato de terminar os trabalhos no Espírito Santo não tem problema. É tranquilo. O que incomoda é o casco estar 50% pronto aqui em Rio Grande — declara o sindicalista. — A Petrobras havia dito no ano passado que não tinha mais interesse na P-71. Agora, não tenho dúvida de que o casco em Rio Grande vai virar sucata — acrescenta.
Segundo a Petrobras, o CIMC Raffles será o estaleiro chinês responsável pelo casco da P-71. No Espírito Santo, o Jurong fará a conclusão dos trabalhos com a integração dos módulos.
— Quando a Petrobras rescindiu o contrato com o Ecovix, a conclusão da P-71 ficou em aberto. O sucateamento de um equipamento tem um efeito desastroso para a sociedade daqui — critica o vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Danilo Giroldo, também presidente do Arranjo Produtivo Local (APL) Polo Naval e de Energia.
A escassez de encomendas da Petrobras nos estaleiros gaúchos é resultado da mudança de política da estatal. Ao apontar custos de produção reduzidos e menor tempo de entrega no Exterior, a empresa tem apostado nas compras fora do Brasil.
Questionada por GaúchaZH, a Petrobras informou que, "por questões de ordem técnica e econômica", a alternativa de aproveitar os blocos já fabricados em Rio Grande "não é a que melhor atende aos interesses" da empresa e de seus parceiros. A companhia ainda comentou que escolheu a China para a construção do casco porque "não foram identificados no Brasil estaleiros com capacidade a atender à demanda".
GaúchaZH tentou contato com a Engevix, dona do Ecovix, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.
Confira a íntegra da nota enviada pela Petrobras:
"O casco da P-71 será construído pelo estaleiro chinês CIMC Raffles, visto que no momento da licitação não foram identificados no Brasil estaleiros com capacidade de atender a demanda de construir um novo casco deste porte. Com base no planejamento atual, há previsão de atendimento ao conteúdo local do contrato de concessão e o casco tem previsão de entrega no final de 2019. A integração dos módulos da planta de processo no casco está prevista para ser realizada no estaleiro Jurong, no Espírito Santo, onde também está planejada a construção de alguns módulos. Por questões de ordem técnica e econômica, a alternativa de aproveitar os blocos já fabricados não é a que melhor atende aos interesses da Petrobras e de seus parceiros."