Desde setembro, mais de 400 trabalhadores do polo naval do Sul do Estado foram demitidos. A informação é do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, que prevê mais desligamentos até janeiro, quando módulos da plataforma P-74, que fica na cidade vizinha de São José do Norte, devem ser finalizados. A estimativa é de que aproximadamente 2 mil profissionais percam o emprego até o início de 2018.
Conforme Sadi Machado, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, os pouco mais de 400 desligamentos ocorridos recentemente foram feitos pela Estaleiros do Brasil Ltda. (EBR). A assessoria de comunicação da empresa não se manifesta, alegando que o projeto tem relação com a Petrobras.
Machado destaca que o setor naval no Rio Grande Sul, e em todo o Brasil, sofre com a forte onda de demissões que emergiu da crise financeira que assola o país.
— O trabalho nas plataformas tem início, meio e fim, e o pessoal sabe disso. O problema é que não há perspectiva para uma retomada do setor naval — lamenta o sindicalista.
Prefeitura e lojistas temem crise em Rio Grande
Conforme Machado, é um dos piores momentos para o segmento desde os anos 1980, quando capitais portuárias sofreram em decorrência da falta de apoio estatal.
— Há uma falta de vontade do governo federal e estadual. Foi preciso 23 anos para que cidades como o Rio de Janeiro, onde os estaleiros quebraram, para que a setor conseguisse se reerguer. Se o polo naval recebesse atenção, fosse forte, talvez não precisasse parcelamento de salários no RS — avalia Machado.
Segundo ele, os efeitos das demissões já podem ser notados pela região de Rio Grande.
— Vemos lojas de carros e mercadinhos, por exemplo, fechando — pontua Machado.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Rio Grande, Gilberto Sequeira, afirma que o impacto ainda não é visível, mas acredita que, em breve, o comércio local pode amargar uma baixa nas vendas.
— Para nós, as demissões são péssimas. Além de aumentar o número de desempregados, é certo que logo as consequências devem aparecer — prevê Sequeira.
O prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT), por sua vez, diz que já é possível notar nas contas do município o abalo que as demissões e a falta de apoio governamental no setor naval.
— Estamos vendo contratos se exaurir. Este ano tivemos uma retração na arrecadação de impostos, como o ICMS, de algo em torno de R$ 60 milhões — diz Lindenmeyer.
O prefeito complementa que a indústria brasileira já representou mais de 30% do PIB nacional, e agora corresponde a cerca de 8%.
— Para piorar, se as novas regras como a Medida Provisória 795 (que isenta as importações navais de impostos) forem aprovadas pelo Congresso, nossa indústria naval está praticamente acabada. Com a carga tributária da nossa indústria, ninguém mais vai comprar das indústrias brasileiras — prevê Lindenmeyer.