O florescimento da indústria naval em Rio Grande transformou para melhor a vida de quem conseguiu escapar da onda de demissões e manter o emprego. Ex-operário da construção civil, Anderson Machado, 34 anos, é da primeira leva de contratados pelo então estaleiro Quip, hoje QGI. Apesar dos solavancos do estaleiro nos últimos anos, ameaçado pela falta de continuidade das encomendas da Petrobras, manteve o emprego.
– Era pedreiro e tinha um salário baixo. Hoje consegui montar um patrimônio. Comprei casa, carro e moto – conta, orgulhoso, Machado, casado, pai de um casal de filhos e única fonte de renda do lar.
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Helton Sacramento, 32 anos, tem uma história semelhante. Morava de aluguel e conseguiu comprar a casa. Os dois filhos estudam em escola particular. Mas as recorrentes ameaças que pairam sobre o polo o deixam aflito:
– Há muita insegurança. Não sabemos como será amanhã – diz Sacramento, que já foi desligado da Quip no final de 2014 quando foi entregue a P-58, mas 45 dias depois foi recontratado para os trabalhos da P-75 e da P-77.
Os reflexos da economia local adernando, porém, foram sentidos pela família. Sacramento conta que o pai, vendedor em uma loja, viu sua renda despencar devido à queda nas vendas, minguando os ganhos com comissões.
Esperança, luta e frustração
Aos 16 anos, Karina de Lima Benites, hoje com 29, foi embora de Rio Grande pela falta de perspectiva de empregos. O entusiasmo nascendo com a chegada do polo naval a fez voltar à cidade. Preparou-se em cursos para tentar uma colocação: trabalhar com solda, maçarico, esmirilhadeira, calderaria. Conseguiu emprego na Ecovix. Após dois anos e meio, foi demitida em 11 de outubro do passado. Permanece desempregada.
Agora, diz lutar por algo que nem sequer sabe ao certo se vai recuperar. Mesmo assim, não abre mão de se engajar nas ações do sindicato dos metalúrgicos para que a região recupere pelo menos parte do que perdeu:
– Nem sei se vou conseguir meu emprego de volta, mas, se o polo se recuperar, as farmácias, as lojas e os restaurantes vão voltar a contratar.
O sonho também virou decepção para Micael Arruda, 28 anos, que trabalhava na montagem de estruturas para empresas terceirizadas no polo naval. Empolgado, fez cursos no Pronatec para se qualificar à vaga buscada. Mas a crise fez seus planos ruírem.
– Perdi o chão. Era o meu sonho, o da minha esposa, do meu vizinho, do meu primo – resume Arruda.