Em meio às notícias recentes de articulação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (PMDB-RJ), para vir a substituir Michel Temer na Presidência da República, o economista-chefe do Santander Brasil, Mauricio Molan, avaliou, nesta sexta-feira (7), que uma eventual troca no comando do Planalto poderia ajudar a destravar as reformas em tramitação no Congresso e não traria maior instabilidade. Mesmo que o mercado já trabalhe com a perspectiva de que as mudanças na Previdência ficarão para depois de 2018, um chefe do Executivo comprometido com as reformas traria ganhos.
– Uma mudança com apoio pode ser positiva. Isso pode tomar várias formas. De repente um consenso de que se tem um Executivo com habilidade para fazer as reformas pode ser positivo. Hoje tem um ambiente político que não permite grande otimismo com reformas a curto prazo – disse o economista, que participou XVI Encontro Santander América Latina, na Cidade Financeira, sede do banco global do banco espanhol em Boadilla Del Monte, nos arredores de Madri.
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Para Molan, a crise política desencadeada em maio com a delação premiada da JBS é o principal fator de risco para retomada econômica do Brasil, mesmo que ainda não tenha provocado abalos consistentes. As quedas nos índices de confiança de empresários e consumidores em junho ainda seriam pontuais e haveria necessidade de verificar se irão persistir neste mês, ponderou. O economista diz que o ajuste fiscal, a melhora da confiança, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o apoio político constituem um ciclo virtuoso responsável por determinar o ritmo do PIB:
– Quando falamos de instabilidade política é a possibilidade de que ajustes sejam menos fortes do que deveriam ser, o que afetará a confiança e, por fim, o crescimento, colocando em risco o círculo.
Segundo Molan, em países emergentes, as reformas estruturais são necessárias para melhorar as condições de competir com as demais nações. O Brasil, apontou, perdeu capacidade de expandir sua renda per capita nas últimas décadas porque a produtividade tem crescido pouco – e avançar neste ponto exige mudanças na legislação trabalhista e na dinâmica de gastos públicos, principalmente previdenciários.
O economista citou a participação das despesas do governo no PIB, de 33%, "muito alto para um emergente", mas mantido com base no crescimento da arrecadação. A interrupção do incremento da receita gerou desequilíbrio, jogando o superávit primário de 3% para -2,5%.
– É preciso recompor o resultado primário para estabilizar a dívida, o que deve ocorrer entre 2019 e 2020. Isso deve ocorrer aos poucos, conforme passar a ser aplicado o teto dos gastos públicos, com crescimento limitado à inflação do ano anterior.
Para Molan, ações econômicas em desenvolvimento indicam para a retomada da atividade do país. A queda da taxa básica de juros feita pelo Banco Central deve se refletir nas taxas pagas pelas famílias. Hoje, 23% da renda mensal é gasta em juros e amortizações e, com os cortes da Selic, esse percentual pode cair para 20% em meados de 2018, gerando aumento real de renda de 3%.
– Já vemos crescimento real da renda, pela queda da inflação, e dos salários, o que é um impulso para o consumo – explicou.
Além da instabilidade política, que amplia a vulnerabilidade fiscal, outros riscos podem ameaçar esse cenário, como ações protecionistas, governo americano, commodities e
China. Para um cenário mais estável no Brasil, a relação dívida/PIB, hoje em crescimento e com perspectiva de chegar a 84,4% em 2021, deve começar a voltar a cair com o ajuste das contas públicas e a geração de superávit primário novamente na casa dos 3%.
– Aumente-se imposto se for necessário, é preciso fazer a curva voltar a descer – afirmou.
Cenário mundial
Um estímulo à retomada econômica também vem da atividade em todo o globo. Segundo a economista-chefe mundial do Santander, Alejandra Kindelán, a taxa de crescimento deve ficar em 3,5% em 2017 e 2018, o que supera em meio ponto percentual o desempenho anterior.
– É um avanço significativo quando se trata de PIB mundial, mas não irá retomar a média de 4,2% das duas décadas anteriores – disse Alejandra.
Esse quadro se desenha a partir da redução da instabilidade política global, condições financeiras expansionistas e melhoria do investimento. Nos Estados Unidos, há o oitavo ano consecutivo de crescimento, com previsão de 2%, acima de seu potencial. A perspectiva é de que siga assim, principalmente com o freio na política fiscal expansiva. Molan reforça que o ambiente internacional é favorável, mas é preciso ter cautela com a freada no ritmo de crescimento da China e a política monetária dos Estados Unidos.
*O jornalista Leandro Brixius viajou a Boadilla Del Monte, na Espanha, a convite do banco Santander
Estimativas para o Brasil
Selic
2017: 8,5%
2018: 8,5%
PIB
2017: 0,7%
2018: 3%
Inflação
2017: 4,2%
2018: 4,2%
Dólar
2017: R$ 3,50
2018:R$ 3,85%
Fonte: Santander