O novo modelo de concessões anunciado no início de setembro pela União deve implicar retorno dos pedágios em pelo menos cinco importantes rodovias federais do Rio Grande do Sul. ZH percorreu os trechos que serão oferecidos à iniciativa privada no Estado e constatou que pelo menos duas estradas estão em péssimo estado. Uma pode ser considerada regular e as outras duas têm boa ou ótima condição de trafegabilidade.
A pior é a BR-386, no trecho de Canoas, na Região Metropolitana, a Carazinho, no Norte. São cerca de 270 quilômetros de extensão e muitos problemas pelo caminho. Inúmeros buracos, ondulações no asfalto e acostamento precário – ou quase inexistente – em alguns pontos são os principais fatores negativos observados durante dois dias de viagem, ida e volta. Conhecida como "estrada da produção", a rodovia surpreende pela qualidade apenas no trecho que vai de Estrela a Lajeado e em algumas regiões onde é duplicada.
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– A BR-386 é horrível. Tem muitos, muitos buracos e curvas bem perigosas. Falta acostamento também, em caso de emergência – opina Advir Perussi, 56 anos, motorista de transportadora.
– É difícil o dia em que faço esse trajeto e não deparo com pelo menos um acidente. Devido ao tráfego intenso de caminhões, já deveria estar toda duplicada há muito tempo – acrescenta Marcelo Gerhardt, representante comercial, que usa a rodovia com frequência.
A segunda pior estrada percorrida pela reportagem é a BR-290, entre Eldorado do Sul e Pantano Grande. Assim como na rodovia que liga ao norte, na via que é uma das principais rotas para a Fronteira Oeste os buracos em sequência prejudicam o tráfego e podem colaborar para ocorrência de acidentes ou problemas mecânicos. A sinalização é ruim e praticamente não há pontos positivos para serem apontados em 110 quilômetros. As imperfeições no asfalto e o acostamento precário oferecem riscos em caso de parada emergencial.
Outra rodovia que será pedagiada, entre Eldorado do Sul e Camaquã, a BR-116 pode ser considerada regular. Existem retalhos de pavimentação no trajeto, mas não há tantos buracos quanto nas outras estradas analisadas por ZH.
As obras de duplicação, atrasadas e praticamente paradas, prejudicam o trânsito e ainda não há data para término dos trabalhos, conforme informou o Ministério dos Transportes. O percurso de aproximadamente 115 quilômetros é quase todo de pista simples.
O teste de ZH identificou trafegabilidade boa ou ótima apenas nos 96 quilômetros da freeway (BR-290), entre Porto Alegre e Osório, cujo contrato de pedágio atual se encerra em julho de 2017, e nos 90 quilômetros entre Osório e Torres, pela BR-101.
– Essas estradas não temos do que reclamar, né? São bem boas, se comparadas a outras rodovias.
O trânsito flui bem, tem várias faixas. São as melhores que temos, certamente – avalia o caminhoneiro Joel Ferreira, 48 anos.
Pior estrada também registrou mais mortes
Além de ser a pior estrada entre as cinco incluídas no plano de concessões da União, a BR-386 também foi a que mais matou nos últimos anos. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, 154 pessoas perderam a vida na rodovia vítimas de acidentes em 2014 e 2015. Até agosto deste ano, a polícia contabilizou mais 36 mortes, totalizando 190.
Entre 2014 e agosto de 2016, a BR-116 registrou 78 mortes, e a freeway, 79. Na BR-290, no mesmo período, 44 pessoas perderam a vida. A menos perigosa, em termos de óbitos no trânsito, é a BR-101: foram 25 mortes no mesmo intervalo de tempo.
BR-386 (Canoas a Carazinho)
No primeiro trecho percorrido, de Canoas a Tabaí, a equipe de ZH constatou que a rodovia está bem sinalizada, tanto no asfalto quanto nas placas. Trata-se de uma região com imperfeições no pavimento. Há diversos pontos esburacados, com ondulações e pouco espaço para saída ao acostamento.
De Tabaí a Estrela, o cenário muda um pouco. Há recuo de pista suficiente para motoristas e um bom trecho duplicado. Ainda há pequenas áreas de pista simples. A única situação que não se altera são os constantes buracos e as frequentes ondulações no asfalto.
No trecho entre Estrela e Lajeado se tem a impressão de estar em outra estrada. O asfalto é quase perfeito. Mas a tranquilidade dura pouco. A partir de Lajeado até o município de Soledade, os pontos negativos se multiplicam. Embora o asfalto passe do ruim para o regular em certos trechos, há curvas bastante acentuadas e um acostamento em péssimo estado. Sobram buracos e desníveis com a área de parada em caso de emergência. Há também um trecho em obras, no qual os motoristas vão encontrar pista simples e poucos pontos com estrada em boas condições. O que se salva é a sinalização, boa.
De Soledade a Carazinho, a rodovia é regular. Também há buracos e ondulações no asfalto em alguns pontos, mas existem trechos com pavimento em boas condições, principalmente na chegada ao destino.
BR-290 (Eldorado do Sul a Pantano Grande)
Quem parte de porto alegre pode até pensar que está na freeway, tamanha a qualidade no percurso entre a saída da Ponte do Guaíba e Eldorado do Sul. Depois, quando começa o trecho a ser concedido pelo governo federal, em direção ao município de Pantano Grande, as condições de tráfego pioram consideravelmente.
Os principais defeitos são os buracos, que, apesar de não serem tão frequentes quanto na BR-386, atrapalham. O acostamento também é precário e, em alguns trechos, torna perigosa eventual parada de emergência.
Praticamente toda a extensão do percurso é em pista simples, mas a estrada está recebendo obras de duplicação.
BR-116 (Eldorado do Sul a Camaquã)
O trajeto começa com pista simples e obras de duplicação. O desvio em Guaíba para afastamento do canteiro de construção é bem visível e não chega a provocar lentidão, salvo nos horários de pico. Há poucas curvas perigosas e a região está bem sinalizada, tanto no asfalto quanto nas placas. Os problemas se concentram a partir de Guaíba, onde há asfalto com retalhos.
Ao se aproximar de Barão do Triunfo, aumentam as imperfeições e os buracos no pavimento, além da condição ruim no acostamento, com desníveis e vegetação alta.
BR-101 (Osório a Torres)
Dos trechos percorridos, é o segundo melhor, ficando atrás em termos de qualidade apenas da freeway. O asfalto é bom em praticamente todos os pontos da estrada, com pequenos desníveis e quase nenhum buraco ao longo do percurso. É um trajeto duplicado, o que facilita e proporciona mais segurança ao deslocamento.
A rodovia também apresenta sinalização adequada e visível e conta com diversos pontos de recuo para os motoristas no acostamento, no geral em boas condições.
BR-290 (Osório a Porto Alegre – freeway)
Sem dúvida, a melhor das cinco rodovias analisadas em condições de trafegabilidade e segurança. Durante toda a extensão do percurso, não há problemas significativos para os motoristas na freeway. Pedagiada, a estrada conta com manutenção constante, o que garante o ótimo nível de conservação do primeiro ao último quilômetro do trajeto.
Há pelo menos quatro faixas para os condutores. Não há curvas perigosas e existem diversos pontos de refúgio e acostamento em caso de emergência. A sinalização também é boa em todo o percurso.